EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO SOBRE COMPONENTES DO SISTEMA PURINÉRGICO E PARÂMETROS INFLAMATÓRIOS EM LINFÓCITOS DE MULHERES COM DIABETES MELLITUS TIPO 2

  • Lucas Macedo Chaves UFFS
  • Samantha Nuncio Prestes UFFS
  • Andreia Machado Cardoso
Palavras-chave: Sistema Purinérgico, Diabetes Mellitus, Inflamação, Linfócitos

Resumo

1 Introdução

A DM2 é uma doença epidêmica de grande impacto na área da saúde em nível mundial, levando a uma menor qualidade de vida e altos níveis de morbimortalidade (KHAN et al., 2019). De acordo com o Atlas da Federação Internacional de Diabetes, no ano de 2021 (FEDERATION, 2019), 10% dos adultos viviam com a doença no mundo, o que significa 537 milhões de pessoas, e há uma estimativa de que esse número atinja 643 milhões em 2030 e 783 milhões em 2045. Além disso, a diabetes foi a causa de 6,7 milhões de mortes no mesmo ano, reforçando seu impacto global na deterioração da saúde e na mortalidade.

É característico da DM2 um estado hiperglicêmico decorrente de uma resistência à ação da insulina e uma disfunção das células β pancreáticas (STUMVOLL; GOLDSTEIN; VAN HAEFTEN, 2005). Essas alterações estão intimamente ligadas à inflamação de baixo grau (LONTCHI-YIMAGOU et al., 2013), sendo observado um aumento de citocinas pró inflamatórias, produzidas por linfócitos T CD4+ e CD8+ (FOTINO; DAL BEN; ADINOLFI, 2018), em pacientes com DM2 (VAN POPPEL et al., 2014).

Nesse contexto, a sinalização purinérgica é uma via de modulação da produção de citocinas pro inflamatórias em linfócitos (JUNGER, 2011). É sabido que na DM2, a sinalização purinérgica está alterada, havendo um desequilíbrio entre os componentes dessa sinalização, promovendo um estado pro inflamatório nos linfócitos (BURNSTOCK; NOVAK, 2013). Restaurar esse balanço pode ser um meio de restaurar o equilíbrio inflamatório em linfócitos. Nessa ótica, o EF se mostra como uma estratégia terapêutica não farmacológica para o gerenciamento do quadro diabético, modulando a sinalização purinérgica e reduzindo o processo inflamatório, característico da DM2 (MENDES et al., 2016).

 

2 Objetivos

Avaliar o efeito de um protocolo de treinamento físico sobre a atividade e expressão dos componentes do sistema purinérgico em linfócitos e sobre parâmetros inflamatórios em mulheres com DM2 e mulheres saudáveis.

 

3 Metodologia

A população do estudo foram mulheres sedentárias de 40 a 60 anos com DM2 e mulheres na mesma faixa etária sedentárias saudáveis, divididas em dois grupos: grupo treinamento diabético (GTD) composto por mulheres com DM2 e grupo treinamento saudável (GTS), composto por mulheres saudáveis. Tivemos uma amostra de 21 para o GTD e de 21 para o GTS.

As voluntárias selecionadas foram submetidas a uma coleta inicial, em que foi realizada a coleta de sangue para as análises laboratoriais e assinatura do TCLE. Em seguida, foi aplicado o protocolo de treinamento misto em circuito em 32 sessões, ao longo de 16 semanas, iniciando com duas semanas de familiarização. Após esse tempo as voluntárias foram submetidas à uma nova coleta em que foi realizada coleta de sangue para análises laboratoriais novamente. O sangue coletado foi enviado ao laboratório da UFFS Campus Chapecó para análise.

 

4 Resultados e Discussão

Observou-se que o exercício físico alterou a sinalização purinérgica em linfócitos. A atividade da NTPDase no grupo diabético estava significativamente aumentado no grupo diabético quando comparado com o grupo controle antes do protocolo de exercício (139,1 ±77,26 nmolPi/min/mg proteína vs 93,78         ±51,59 nmol Pi/min/mg proteína; P= 0,0245) No grupo diabético houve uma redução de 58% na atividade da NTPDase, comparando o pré treinamento (139,1 ±77,26 nmolPi/min/mg proteína) com o pós treinamento (58,63 ±21,18 nmolPi/min/mg proteína) quando o substrato era o ATP (P <0,0001) e uma redução de 44% (149 ±71,99 nmolPi/min/mg proteína vs 66,53 ±22,41 nmolPi/min/mg proteína) quando o substrato era o ADP (P<0,0001). O grupo de mulheres sem diabetes também apresentou redução na atividade da NTPDase (93,78 ±51,59 vs 36,76 ±19,21; P = 0,0012) em ATP e, também em ADP (101,8 ±53,57 vs 47,95 ±19,29; P=0,0018).

Assim como observado na literatura (GARCÍA-HERNÁNDEZ et al., 2011), os resultados apontam para um aumento da atividade da NTPDase em pacientes com diabetes, o que pode ser visto como um marcador de atividade dos linfócitos T reguladores (GARCÍA-HERNÁNDEZ et al., 2011; GUZMAN-FLORES et al., 2015), uma vez que a CD39 é um antígeno que ativa essas células (PULTE et al., 2007). Esse aumento pode, ainda, representar um mecanismo compensatório, posto que a CD39 também protege as células da lise promovida por altas concentrações de ATP (FILIPPINI et al., 1990). Assim, após a aplicação do protocolo de exercício essa atividade foi diminuída, o que demostra uma diminuição da atividade dos linfócitos ou, também, um ambiente menos concentrado de ATP, ambos significando um estado menos inflamado.

Nesse sentido, analisou-se a concentração de ATP nos linfócitos. Antes da aplicação do protocolo de treinamento a concentração de ATP no grupo diabético estava significativamente maior que o grupo controle (581,4 ±146,2 vs 421,5 ±83,29; P<0,0001), o que confirma que a diabetes promove um aumento do ATP, ativando mais receptores do tipo P2X que são correlacionados a aumentos em mediadores pro inflamatórios como a proteína C-reativa, TNF-α e IL-1β (WU et al., 2015). Após a aplicação do protocolo de exercício houve uma redução significativa da concentração de ATP no grupo diabético (581,4 ±146,2 vs 487,4 ±84,16; P= 0,0215), demonstrando que o exercício é um importante regulador do sistema purinérgica, fazendo com que haja diminuição da concentração do ATP e consequentemente menor atividade de receptores P2X e menor atividade inflamatória em linfócitos.

Analisou-se, também, a expressão da enzima Adenosina Deaminase (ADA) sendo observado que, antes da aplicação do exercício, a atividade da ADA em pacientes com diabetes está aumentada quando comparado com grupo controle (42,96 ±30,97 vs 8,588 ±10,51; P <0,0001). Após a aplicação do exercício físico, houve uma redução significativa da atividade da ADA no grupo diabético (42,96 ±30,97 vs 15,71 ±14,14; P =0,0009).

Quando comparados pacientes com diabetes controlada ou não controlada, percebeu-se maiores níveis séricos de ADA2 em pacientes não controlados (LARIJANI et al., 2016). Nesse sentido, altos níveis de ADA se relacionam a uma piora no controle da Diabetes e a diminuição da ADA2 se correlacionou com melhora nos níveis glicêmicos e na redução de hospitalizações (HOSHINO et al., 1994). Assim o exercício desponta como regulador da DM através da diminuição da concentração da ADA.

Por fim, mensurou-se os níveis de citocinas pró (IL-6, TNF-α e IFN-γ) e anti-inflamatórias (IL-10). Nesse sentido, comparando o período pre e pós treinamento, observou-se redução das citocinas TNF-α e IFN- γ, no GTD (3,516±1,591 vs. 2,64±0,962 pg/ml, p>0,05; 10,260±3,343 vs. 8,556±1,146 pg/ml, p>0,05, respectivamente). Não foi observado diferença entre pre e pós quanto aos níveis de IL-6. Já em relação a IL-10, ambos grupos tiveram um aumento nos níveis após o período de treinamento 0,9908±0,4085 vs. 3,5780±2,76 pg/ml no GTC; 1,59±0,59 vs. 3,52±2,65 pg/ml no GTD). Assim, foi possível observar que o treinamento misto em circuito promoveu um melhor equilíbrio inflamatório por reduzir as citocinas pro inflamatórias e aumentar a IL-10 que é uma citocina com papel anti inflamatório.

 

5 Conclusão

Foi possível concluir que o protocolo de treinamento misto em circuito aplicado gerou mudanças significativas na sinalização purinérgica em linfócitos de mulheres com DM2, principalmente relacionado as enzimas desse sistema (NTPDase e ADA). Observou-se também que o exercício gerou um equilíbrio em parâmetros inflamatórios. Nesse sentido, o protocolo de treinamento misto em circuito se mostra como uma efetiva estratégia do controle inflamatório, regulando a sinalização purinérgica, sendo uma nova estratégia terapêutica para o controle da DM2 não farmacologicamente, o que pode ampliar a adesão e a eficácia do tratamento.

Publicado
09-10-2023