ANÁLISE COMPARATIVA DA VIABILIDADE ECONÔMICA EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA E CONVENCIONAL NA REGIÃO DO TERRITÓRIO DA CIDADANIA CANTUQUIRIGUAÇU/PR.

  • Angiclei Larentis De Col Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Janete Stoffel
Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável; Agricultura familiar; Estudo de caso.

Resumo

1 Introdução

Ao longo do século XX o desenvolvimento do espaço rural no Brasil passou por grandes modificações. Uma destas mudanças ocorreu na agricultura a partir da década de 1950, devido à modernização da agricultura ou revolução verde, como o uso intensivo de insumos químicos, a mecanização, e êxodo rural que as transformações tecnológicas promoveram no meio rural (CONTERATO, 2008). Neste período o processo de modernização conservadora se expandiu com um fortalecimento do consumo industrial pela agricultura, materializada na presença crescente de defensivos agrícolas e a introdução de máquinas na agricultura (semeadeiras, tratores, colheitadeiras), processo este que intensifica a divisão do trabalho familiar e provoca êxodo rural (DELGADO, 2005).

A agricultura familiar não foi considerada pelos decisores nas políticas públicas que promoveram a modernização da agricultura. Somente a partir da década de 1990 é que se passa a aceitar que esta categoria é ainda a principal fonte de ocupação de mão de obra no meio rural, que nela se promove a diversidade da produção, sendo importante para reduzir a pobreza e a desnutrição no campo (SCHNEIDER, 2003). Nas palavras de Veiga (2000, p. 26) “a agricultura familiar é muito mais sustentável, seja em termos de estabilidade, resiliência ou equidade”.

Neste contexto, devido à crescente demanda por alimentos saudáveis, a agricultura orgânica/agroecológica tornou-se uma alternativa de renda para os agricultores familiares, tanto no Brasil quanto no mundo. Embora o interesse pela alimentação orgânica ainda seja limitado a um pequeno grupo de famílias, as críticas ao uso de agrotóxicos e a busca por alimentos saudáveis estão se tornando cada vez mais demandados entre a agricultura familiar e os consumidores (CAMPANHOLA E VALARINI, 2001).

Diante dessa realidade, o projeto de pesquisa se propôs a entender como são os resultados em termos de viabilidade de sistemas de produção agroecológica e convencional. No decorrer da pesquisa foi constatado que seria possível abarcar a análise referente ao sistema de produção orgânico (BATISTA, STOFFEL, 2021). Cabe destacar ainda que, em virtude das limitações impostas pela pandemia do Covid-19, não foi possível estudar os dois sistemas pretendidos. Assim, neste resumo são apresentados aspectos observados em sistema de produção orgânico, buscando apresentar informações sobre a viabilidade econômica e financeira a partir do estudo de caso em uma associação de agricultores familiares na região do Território da Cidadania Cantuquiriguaçu no Paraná.

2 Objetivos

Apesar de a proposta inicial ser de estudar sistema de produção agroecológico, na medida em que fomos estudando aspectos técnicos fomos nos dando conta de que é muito difícil localizar unidades produtivas que sejam completamente agroecológicas (BATISTA, STOFFEL, 2021). Assim, houve necessidade de definir pelo estudo de uma unidade de produção que seja orgânica, pesquisando a viabilidade econômica e financeira de sistema de produção orgânica em uma associação de agricultores familiares na região do Território da Cidadania Cantuquiriguaçu/PR.

3 Metodologia

Em relação à classificação, esta pesquisa é de natureza qualitativa e quanto aos objetivos é descritiva e explicativa. A característica descritiva está relacionada à descrição das características da associação de agricultores familiares que atua em sistema de produção orgânico. Em relação à classificação como explicativa, "este é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas” (GIL, 2008, p. 28). Neste sentido busca-se identificar os fatores que auxiliam nas condições de produção orgânica, para verificar quais as condições de viabilidade econômica e financeira existentes para a realidade estudada.

Em relação aos procedimentos de coleta de dados se classifica, inicialmente, como uma pesquisa bibliográfica, baseando-se em trabalhos científicos como dissertações, teses, artigos e livros que discorrem sobre a importância da agricultura familiar dentro do desenvolvimento rural e o papel da produção orgânica para a agricultura familiar (GIL, 2010). A coleta de dados primários está sendo realizada junto à associação familiar, mediante a utilização dos instrumentos de entrevista e um roteiro com perguntas previamente estruturadas.

Este trabalho se classifica também como um estudo de caso, pois permite o aprofundamento da unidade estudada com objetivo de amplo e detalhado conhecimento referente à associação de agricultores familiares, que trabalham com sistema de produção orgânico. Serão obtidas diversas informações sobre a associação, dentre elas: o detalhamento das funções e organização desses produtores orgânicos, custos e preço de venda dos alimentos, e, a forma que produzem, identificando a situação da vida real destas famílias (PRODANOV; FREITAS, 2013).

Diante das restrições impostas pela pandemia do Covid-19 as entrevistas estão sendo realizadas predominantemente por meio do aplicativo whats app. Cabendo destacar que o retorno das respostas não tem sido plenamente satisfatório, promovendo demoras maiores do que aquelas esperadas, o que comprometeu o alcance dos resultados, tendo sido solicitada prorrogação do prazo para a entrega dos resultados junto ao Comitê Assessor de Pesquisa (CAP) local.

4 Resultados e Discussão

Com a pesquisa ainda em andamento, o estudo está sendo realizado com produtores familiares oriundos da agricultura sustentável, localizados em uma comunidade no interior do Município de Laranjeiras do Sul-PR na Região do Território da Cidadania Cantuquiriguaçu-PR. Estes agricultores integram a Associação pesquisada (que será mantida no anonimato para preservar suas informações) que atualmente (2021) é composta por seis famílias cadastradas em atas da Associação, nas quais há um conjunto de vinte e quatro pessoas que integram as famílias.

A Associação está organizada de forma comunitária e desfruta de uma horta coletiva, localizada em uma das propriedades na qual o trabalho é realizado por todos os associados. Sua principal atividade econômica consiste na comercialização de cestas de produtos orgânicos, compostas por hortaliças e frutas e um item de panifício/massas. São comercializadas 50 cestas por semana e trabalham com a possibilidade de encomendar outros produtos além dos que compõem as cestas. A Associação utiliza o whats app, instagram, facebook e de panfletos para a divulgação de seus produtos, promovendo uma maior visibilidade e interação com seus clientes. Porém, é possível observar que a Associação necessita de aperfeiçoamento em seus canais de divulgação, com intuito de ampliar suas vendas e aumentar seus lucros.

A iniciativa da implementação das cestas de produtos coloniais aconteceu a partir do objetivo de alcançar um melhor aproveitamento da produção das famílias, atendendo consumidores que foram prospectados no meio urbano com apoio de projetos de extensão coordenados por docentes da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Laranjeiras do Sul. Assim, as hortaliças, frutas, e os panifícios são produção das famílias integrantes da Associação, sendo que esses últimos itens são produzidos em uma cozinha de utilização comum, enquanto os demais produtos são produzidos individualmente nas unidades de produção individual.

A partir das entrevistas realizadas com as famílias da Associação pesquisada, obteve-se uma relação dos itens produzidos, consumidos nas famílias (autoconsumo) e destinados para comercialização. A produção é composta por espécies frutíferas (laranja, limão, banana e poncã), leguminosas (a mandioca, batata doce, abóbora, beterraba e cenoura), hortaliças (alface, rúcula, cheiro verde, repolho, chicória, acelga, couve-flor e brócolis), bem como a produção de compostos orgânicos utilizados em seus cultivos.  Em relação aos produtos panificados são produzidas massas, pães, cucas e macarrão que utilizam na sua composição os produtos que as famílias produzem, tais como batatas, beterrabas, cenouras.

As hortaliças, frutíferas e os panifícios são comercializados por quilo, em pacotes, em bandejas, em dúzia, em litros ou em unidades, totalizando 32 itens. A comercialização das cestas dos produtos coloniais é realizada de forma fechada e encontra-se no valor individual de R$30,00, composta por 7 a 9 produtos. Este valor sofre alterações uma vez por ano, sendo que o último reajuste foi efetuado no mês de maio de 2021. A entrega das cestas aos consumidores é realizada semanalmente pelos integrantes da Associação, sendo que atualmente há uma receita aproximada de R$ 6,000,00 com as 50 cestas semanais entregues ao preço de R$ 120,00 mensais.

 Além de comercializar os itens produzidos nas unidades de produção, quando há demanda por parte dos consumidores e a produção própria não é suficiente, a Associação efetua a compra de produtos de famílias externas à Associação. Ocorre que, ao comprar dos vizinhos os integrantes da associação pagam mais caro do que se eles estivessem produzindo e este custo maior é repassado aos consumidores da Associação. Os produtos adicionais são o doce de leite, leite, queijo, manteiga, galinha caipira e ovos.

5 Conclusão

De acordo com o estudo de caso o desenvolvimento do sistema de produção orgânica dentro da agricultura familiar vem trazendo benefícios e satisfação para as famílias integrantes da associação pesquisada. Uma vez que o modelo alternativo de produção na agricultura gera crescimento do nível de renda, melhora a qualidade de vida dos consumidores e das famílias produtoras que passam a consumir mais alimentos saudáveis. Outro benefício que o sistema de produção orgânica gera está na preservação do meio ambiente, promovendo, assim, o desenvolvimento sustentável.

Para análise dos índices econômicos, foram identificados os investimentos efetuados pelas famílias e associação para o desenvolvimento das atividades.  Constatou-se que a Associação efetuou investimentos totais no valor de R$ 27.450,00 (na aquisição de um forno industrial, uma amassadeira industrial, construção de uma cozinha industrial e um automóvel Fiat Doblo). As receitas mensais fixas com a comercialização das cestas é de R$ 6.000,00 e os custos mensais ainda não foram identificados em sua totalidade, uma vez que as famílias e a associação não possui controles sobre estes e estamos conjuntamente tentando identificar tais montantes. Assim, a previsão é de que até meados de outubro tenhamos finalizado este levantamento, uma vez que este trabalho integra também um trabalho de conclusão de curso que a acadêmica bolsista está desenvolvendo e será concluído no semestre 2021/1, ainda em andamento.

Publicado
12-10-2021