ABORDAGEM DE SAÚDE EM EVENTOS DA ÁREA DE ENSINO DE BIOLOGIA

  • Lidiane Moiseli Carvalho UFFS
  • Fabiane Habowski Escola Estadual Técnica Guaramano
  • Eliane Gonçalves dos Santos UFFS
Palavras-chave: Ensino de saúde, Práticas pedagógicas, Ensino de Ciências e Biologia

Resumo

ABORDAGEM DE SAÚDE EM EVENTOS DA ÁREA DE ENSINO DE BIOLOGIA

 

 

LIDIANE MOISELI CARVALHO[1],[2]*, FABIANE HABOWSKI3, ELIANE GONÇALVES DOS SANTOS2,[3]

 

 

1 INTRODUÇÃO

Schall e Struchiner (1999, p.4) expressam que a Educação em Saúde é “um campo multifacetado para o qual convergem diversas concepções das áreas tanto da educação quanto da saúde, as quais espelham diferentes compreensões do mundo, demarcadas por distintas posições políticas, filosóficas sobre o homem e a sociedade”.

Educar para saúde tem sido uma preocupação emergente,  e necessária em tempos de pandemia, pois os conhecimentos aprendidos na escola tem que ter sentido e significado para a vida dos sujeitos.  Morh  (2002, p. 38) compreende a Educação em Saúde como “atividades realizadas como parte do currículo escolar, que tenham uma intenção pedagógica definida, relacionada ao ensino-aprendizagem de algum assunto ou tema relacionado com a saúde individual ou coletiva”. Portanto, investigar e compreender como esse tema está sendo abordado no espaço escolar torna-se primordial para pensar em novos caminhos e possiblidade para a promoção e práticas que contribuam com a saúde individual e coletiva.

2 OBJETIVOS

Mapear as abordagens sobre saúde no Ensino de Ciências/ Biologia em dois eventos científicos.

3 METODOLOGIA

Pesquisa do tipo bibliográfica, exploratória e de abordagem qualitativa. De acordo com Gil (2002, p.44) uma pesquisa bibliográfica “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. E, uma pesquisa qualitativa em educação, conforme Lüdke e André (2001), é aquela que parte do estudo da experiência humana, da interação, da interpretação e dos sentidos atribuídos pelas pessoas aos dados.A pesquisa bibliográfica para  mapear as publicações sobre o assunto Saúde, foi realizada nos anais do Encontros do Ensino de Bilogia: EREBioSul e ENEBio, com recorte temporal de 5 anos (2015-2020). Nessa investigação buscou-se identificar como a temática Saúde está sendo apresentada na escola.  Para análise qualitativa do material a técnica da Análise de Conteúdo (AC) de Bardin (2004) foi utilizada.  A busca foi realizada nos anais dos respectivos eventos, utilizando os termos “saúde e escola” e “educação e saúde”, a fim de encontrar aqueles textos que se enquadram na pesquisa, quadro 1. A escolha dos textos para análise se deu a partir da leitura de títulos, resumos e palavras-chave.

 Quadro 1- Total de trabalhos encontrados no ENEBIO e EREBIO-SUL

 

VII EREBIO/

2015

VI ENEBIO,

VIII EREBIO

-SUL/ 2016

VII ENEBIO/ 2018

IX EREBIO-

-SUL/ 2019

    TOTAL

 

Número de trabalhos.

111

700

902

166

1879

Número de trabalhos que abordam saúde.

3

18

20

7

48

Fonte: Dados da Pesquisa, 2021.

            Os 48 trabalhos selecionados para compor o corpus de análise foram aqueles que tratavam de práticas pedagógicas de saúde e tivessem sido realizadas com estudantes da Escola Básica. Assim, por meio da técnica de AC, foram identificadas nos textos as temáticas de saúde abordadas no espaço escolar.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A importância de se ministrar aspectos da saúde e educação em saúde na escola está ligado ao fato de que além da troca de dentição das crianças ocorrerem no período escolar, é nele também que os adolescentes formarão seu caráter, personalidade e estilo de vida, Buss (2001, p. 281) ressalta que: “O ambiente em que o jovem está inserido é um dos fatores que mais influenciam seu comportamento e estilo de vida no futuro”.

A temática saúde na escola tem a atenção de diversos organismos como a Organização da Nações Unidas (OMS) e a UNESCO. No Brasil, em 2007 criou-se o Programa de Saúde na escola, o qual tem como finalidade contribuir para a formação integral dos estudantes por meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde.

Compreendendo a importância do assunto para o ensino, a presente pesquisa desenvolveu-se. No processo de análise foram identificadas onze temáticas sobre saúde, nos trabalhos realizados com os alunos nas escolas, sendo: saúde x questões ambientais, abrangendo 1:48 trabalhos, o qual enfatizou o desastre de Mariana, discorrendo sobre como aconteceu e quais consequências tanto para as pessoas quanto para a fauna e a flora do local, estabelecendo relações entre os impactos ambientais e saúde.  A atividade física, na proporção de 1:48, tratou de uma dinâmica entre professores e alunos sobre a pedalada, além da prática do mesmo. Trazendo à tona assuntos como: quais os benefícios tanto físicos, mentais e ambientais? De que forma ela contribui para a criação de laços com a cidade? Hábitos saudáveis, entre outros. Discorreu sobre os benefícios do uso da bicicleta, englobando a ausência de poluição atmosférica e sonora, o baixo custo, a aproximação de pessoas e os benefícios ao corpo.

O assunto vacinação foi identificado em 2:48 dos textos, nos quais se discutiu o conhecimento dos estudantes sobre o processo de fabricação de vacinas, a sua importância tanto individual como social e a história da criação das mesmas. Sanando dúvidas e permitindo reflexões sobre o papel das campanhas e políticas de vacinação no Brasil. Gênero e sua diversidade foram abordados em 2:48, a partir de questões como: identidade sexual, diferenças de gênero, características femininas e masculinas, qual fator é usado para delimitar o gênero, entre outros. Tendo por objetivo maior, desmistificar tabus e preconceitos.

 A temática drogas se fez presente em 3:48, os quais trataram dos efeitos das drogas no organismo, como o vício afeta à saúde física, emocional, psíquica dos sujeitos e suas relações interpessoais, assim como quais são as dificuldades de parar de ingeri-la, etc. A gravidez, foi outra temática evidenciada em 3:48 trabalhos, os quais buscaram identificar junto aos estudantes das Escolas se eles já haviam tido contato ou já conheciam alguém próximo que foi pai ou mãe na adolescência. Discussão de assuntos como prevenção, índices, obstáculos ao criar uma criança em uma faixa etária jovem, etc. A alimentação esteve presente na discussão de 3:48 trabalhos, os quais buscaram informar os estudantes a respeito da origem dos alimentos, alimentação saudável e sobre a utilização de garrafas PETs na construção de hortas.    

A temática higiene na proporção de 4:48, abrangeu dois tópicos: higiene corporal e higiene bucal. Trazendo informações sobre a necessidade de se realizar uma higiene correta, os impactos tanto para quem realiza quanto para quem não faz e como esse assunto era abordado décadas atrás. Zoonoses foi outra temática abordada em 6:48, abordando: o que são zoonoses, quais são as mais comentadas, como são transmitidas, qual o ambiente que se torna propício aparecer algum caso, o cuidado com os animais, como evitar, etc. Dentre elas houve ênfase sobre o caso da dengue e do Aedes aegypti.

Em relação às Infecções Sexualmente Transmissíveis – ISTs, na proporção de 6:48 trabalhos que discorriam sobre: o que são ISTs? Como prevenir? Quais são os métodos contraceptivos? Buscando, sobretudo, uma conscientização por parte dos alunos, além de avaliar o conhecimento pré-existente. Sexualidade e educação sexual, foi a temática discutida em 17:48 dos trabalhos, os quais tratam de vários questionamentos e reflexões, sobre o que é sexualidade, a puberdade, mudanças físicas e emocionais que acompanham esse período, contraceptivos e sua importância, vida sexual e com quem que os alunos conversam sobre o assunto.

Neste estudo, percebe-se que as onze temáticas de saúde identificadas, foram trabalhadas com os estudantes para além do binômio saúde-doença, pois as discussões contemplaram aspectos sociais, ambientais, econômicos, emocional, psíquico. Para Santos (2018, p.170) “o papel formativo da escola na formação cidadã dos estudantes pode ser incrementado, quando os professores abordam a saúde numa perspectiva ecossistêmica”, a qual “permitirá aos alunos, e através deles suas famílias, tomarem consciência que saúde no Brasil não pode ficar apenas na ausência de doenças [...], mas na tematização dos direitos básicos e essenciais da população” (Id. Ibid). Um ensino com atividades promotoras de saúde oportunizará aos estudantes o entendimento de saúde para além da cura e tratamento.

5 CONCLUSÃO

Este estudo possibilitou identificar as temáticas de saúde que estão sendo discutidas pelos professores nas escolas, assim, como a abordagem de saúde desenvolvidas nas práticas pedagógicas com os estudantes. Observando as publicações nos 2 eventos do Ensino de Biologia entre 2015-2020, nota-se que poucos foram os trabalhos (48:1879) que trouxeram as práticas pedagógicas realizadas com a tema saúde no espaço escolar. Por outro lado, nos 48 textos analisados, foram identificadas onze temáticas de saúde desenvolvidas com alunos da Educação Básica. As publicações mostram que os professores trabalharam com a saúde sendo produzida nas relações com o meio ambiente, econômico e interligadas a questões sociocultural e socioemocionais. Um ensino contextualizado permitirá aos estudantes o entendimento da promoção da saúde e da qualidade de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2004.

BUSS, P. M. Promoção da saúde na infância e adolescência. Rev. Bras. Saude Mater. Infant., 2001. https://doi.org/10.1590/S1519-38292001000300010

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. - São Paulo: Atlas, 2002.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 2001.   

MOHR, A. A natureza da educação e saúde no Ensino Fundamental e os professores de ciências. 2002. 409 f. Tese. (Doutorado em Educação) Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 

SANTOS, E. G. dos. A educação em saúde nos processos formativos de professores de ciências da natureza mediada por filmes. 2018. 217p. Tese (Doutorado em Educação Nas Ciências) - Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação nas Ciências, UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

SCHALL, V. T.; STRUCHINER, M. Educação em Saúde: novas perspectivas. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.15, n. 2, 1999. p. 1.

 

Palavras-chave: Ensino de saúde, Práticas pedagógicas, Ensino de Ciências e Biologia.

Nº de Registro no sistema Prisma: PES 2020-048

Financiamento

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

 

[1]  Estudante da Escola Técnica Guaramano. Bolsista PIBICEM-CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, contato: lidianecar23@gmail.com

[2]Grupo de Pesquisa: GEPECIEM

[3] Doutora em Educação nas Ciências. Professora do Curso de Ciências Biológicas e do PPGEC da Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Cerro Largo, RS. Orientador.

Publicado
15-10-2021