CINEMA COM CIÊNCIA:

POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS DOS FILMES COMERCIAIS PARA APRENDER SOBRE A EDUCAÇÃO EM SAÚDE

  • Stefani Caroline Roos Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
  • Márcia Tschiedel Escola Estadual de Educação Básica Eugênio Frantz
  • Leonardo `Priamo Tonello Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
  • Eliane Gonçalves dos Santos Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
Palavras-chave: Ensino de saúde, filme, recurso didático, prática pedagógica

Resumo

1 Introdução

Utilizar filmes comerciais, que foram produzidos para entretenimento como um instrumento de ensino e construção do conhecimento, ocorre por este ser uma tecnologia educacional, assim como a televisão, o computador, o smarphone entre outros aparatos tecnológicos.  Para Napolitano (2008, p.14) “o cinema enquanto indústria cultural, também é uma forma de mídia moderna, voltada cada vez mais para um espectador formado pelas novas Tecnologias da Informação e Comunicação”. Assim, pensar o uso de filmes na sala de aula é algo essencial, e este pode contribuir com discussões de diferentes temáticas, como as que se referem a saúde.

            Para Gomes, Costa e Zancul (2011, p. 68) “a escola vem se tornando cada vez mais importante na formação de hábitos saudáveis. Nesse ambiente, deve haver espaço para educadores e alunos discutirem questões sobre saúde, mas para isso é fundamental que os educadores tenham formação e conhecimento suficiente”.  Nas palavras dos autores, para ensinar e educar para a promoção da saúde é importante que os cursos de formação de professores trabalhem esse assunto de forma que os futuros professores compreendam que saúde é mais que ausência de doenças e está relacionada com diferentes fatores de ordem social, emocional, ambiental, etc.

 Martins; Santos; El-Hani (2012) citam que há  três abordagens de saúde: a biomédica em que saúde é a ausência de doenças; a comportamental, para se ter saúde há que se mudar os hábitos e comportamentos e a abordagem biopsicossocial de saúde que comtempla as condições psicológicas, sociais, econômicas, biológicas, educacionais, culturais, trabalhistas e políticas, e Gómez e Minayo (2006)  apresentam a abordagem ecossistêmica, na qual existe uma estreita inter-relação entre a noção de saúde, qualidade de vida e o ambiente, Santos (2018, p. 108) reitera que nessa  “ abordagem a saúde é compreendida dentro de uma visão em que não se vê as partes individualizadas e estanques, mas como um todo constituído de partes que interagem, se interligam e se influenciam mutuamente, numa dinâmica que é mais do que a soma de cada um”. Nesse sentido decorre a importância de se (re)pensar a forma como a saúde está sendo apresentada na escola básica.

 Desta maneira acreditamos que a utilização de filmes no ensino, seja um importante recurso para refletir e potencializar o pensamento sobre as questões referentes à promoção da saúde, de forma a auxiliar e identificar quais aspectos sobre o referido tema é apresentado por essa mídia. Apontamos que desenvolver trabalhos com filmes na escola pode contribuir com múltiplos olhares sobre essa ferramenta, assim, como reflexões, debates envolvendo questões de saúde, temas contemporâneos e polêmicos como: pandemias, eutanásia, distúrbios alimentares, depressão entre outros.

O filme Nise – O Coração da Loucura, é uma produção nacional, protagonizada por Glória Pires. A obra apresenta como eram vistos e tratados os ditos loucos em meados do século XX no Centro Psiquiátrico Nacional localizado do bairro do Engenho de Dentro no Rio de Janeiro. Ao ficar responsável pelo setor de terapia ocupacional, a psiquiatra promove uma verdadeira revolução na forma de ver e de tratar os doentes. Pois, seu método não consiste em tratamentos de choques e desumanos, ela usa a arte para trabalhar com seus pacientes, os quais ela denomina de clientes.

2 Objetivos

 A pesquisa objetivou identificar por meio da análise do filme Nise - O Coração da Loucura (2015) como a temática Saúde está sendo apresentada nesta mídia e como os filmes podem contribuir para discussões sobre o assunto no espaço escolar.

3 Metodologia

O presente trabalho é uma pesquisa qualitativa em educação (LÜDKE; ANDRÉ, 2013) com recorte para a Educação em Saúde, onde se fez um estudo descritivo e exploratório para analisar as questões de saúde que filmes comerciais apresentam em seus enredos. Para o desenvolvimento do trabalho, primeiramente realizou-se a seleção, e posteriormente, a análise do filme. Pois, “a imagem, como um texto, pode ser lida por meio de diferentes lentes teóricas, possibilitando dessa forma, uma multiplicidade de leituras e análises visuais” (BALESTRIN; SOARES, 2013, p.88). Para análise do filme foi realizado o seguinte encaminhamento metodológico propostos por Balestrin e Soares (2013): um longo contato com o campo de pesquisa (neste caso, o filme), observação sistemática e variada (assistir ao filme de diferentes modos, sem interrupção, com pausas para registros, assistindo os extras), registro em caderno campo (descrição das cenas fílmicas, como questões e pontos que parecem potencialmente interessantes para a análise), escolha de cenas para a análise propriamente dita. Para análise do conteúdo de saúde do filme, utilizamos a Analise de Conteúdo de Bardin (2011).

4 Resultados e Discussão

O filme Nise - O Coração da Loucura, oportuniza refletir sobre várias temáticas, como as abordagens de saúde: biomédica (saúde como ausência de doenças); comportamental ( a promoção de saúde implica na mudança de hábitos diários, dependendo de fatores biológicos e comportamentais) e biopsicossocial (leva em consideração fatores, históricos, culturais, sociais e econômico, dependendo de bem-estar biopsicossocial e ambiental, promovida através de ações individuais, coletivas e muitas vezes políticas), a partir de cenas que apresentam os tratamentos  com lobotomia que os pacientes com esquizofrenia eram submetidos em meados do século XX; as agressões físicas e psicológicas que pacientes sofriam no hospital psiquiátrico; o tratamento humanizado que a psiquiatra Nise dava aos seus “clientes”, usando técnicas como pintura em tela, jogos coletivos e cuidados com animais de estimação, esses encaminhamentos tranquilizavam e de certa maneira socializam os pacientes do hospital psiquiátrico.

O filme Nise, oportuniza um outro entendimento de saúde ao debater questões pouco abordadas em sala de aula, como o tratamento humanizado dos pacientes com esquizofrenia e dessa maneira ampliar os entendimentos de saúde dos alunos, bem como discutir questões correlatas a saúde mental, a qual está relacionada ao estado de equilíbrio de uma pessoal do sujeito e seu meio sociocultural. A partir dessa e de outras discussões o professor pode sugerir aos alunos que identifiquem outros filmes para discorrer sobre outras questões de saúde, bem como propor o desenvolvimento de uma pesquisa sobre a história das doenças ao longos dos tempos, afim de compreender como o conceito de saúde foi sendo modificado em virtude das condições sociais e históricas ao longo do tempo (SCLIAR, 2007).

O filme sobre o trabalho de Nise, possibilita a partir de seu enredo debater e pensar sobre as questões de saúde, a partir de um olhar e compreensão mais amplo e humanizado, além de se mostrar como uma tecnologia de fácil acesso aos professores e estudantes da Educação Básica.

5 Conclusão

As questões de saúde necessitam ser desenvolvidas na escola por um outro viés, o qual oportunize aos estudantes e também aos professores compreenderem que são vários os fatores que interferem em nossa saúde, dessa maneira é importante termos uma compreensão ampliada do assunto. A análise do filme Nise - O Coração da Loucura possibilitou identificar as três abordagens: biomédica, comportamental e biopsicossocial, além do que a obra pode colaborar com as discussões sobre saúde e as demais temáticas presentes em seu enredo.

Referências

BALESTRIN, P. A.; SOARES, R. “Etnografia de tela”: uma aposta metodológica. In: MEYER, D. E.; PARAÍSO, M. A. (Org.). Metodologias de Pesquisas Pós-Críticas em Educação. BH: Mazza Edições, 2012. p. 87-110.

COSTA, S.; GOMES, P.H.M.; ZANCUL, M.S. Educação em Saúde na escola na concepção de professores de Ciências e Biologia. Disponível em: <www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R0922-1.pdf>. Acesso: 12 fev. 2016.

GÓMEZ, C. M.; MINAYO, M. C. S. Enfoque ecossistêmico de saúde: uma estratégia transdisciplinar. Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente (InterfacEHS), v.1, n. 1, ago. 2006. p. 1-19. Disponível em: <http://www.revistas.sp.senac.br/index.php/ITF/article/view/413>. Acesso em: 02 jan. 2016. 

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 2013.

MARTINS, L; SANTOS, G. S.; EL-HANI, C. N. Abordagens de saúde em um livro didático de biologia largamente utilizado no ensino médio brasileiro. Investigações em Ensino de Ciências, v. 17, n. 1, p. 249-283, 2012.

SANTOS, E.G dos. A Educação em Saúde nos Processos Formativos de Professores de Ciências da Natureza Mediada por Filmes. 2018. 216f. Tese (Doutorado)- Educação nas Ciências, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande Do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, 2018. Disponível em: <https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/bitstream/handle/123456789/6064/Eliane%20Gon%c3%a7alves%20dos%20Santos.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 01 jul. de 2020.

SCLIAR, M. História do Conceito de Saúde. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1):29-41, 2007.

NISE: O Coração da Loucura. Direção: Roberto Berliner. Produção: Rodrigo Letier e Lorena Bondarovsky.2015.

Publicado
08-10-2020