A FORMAÇÃO MÉDICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL, CAMPUS CHAPECÓ, PELA PERCEPÇÃO DOS DOCENTES

  • Dyelle Hingrid Gonçalves Gontijo UFFS / discente
  • Caroline Borba Voigt
  • Graciela Soares Fonsêca
Palavras-chave: Formação Médica; Educação Superior; Educação de Graduação em Medicina.

Resumo

1 Introdução

 

A educação médica, assim como a própria medicina, está em constante transformação. Isso é especialmente verdade no que tange às novas metodologias de ensino. É evidente a necessidade de atualização dos docentes no que diz respeito a seus métodos didático-pedagógicos, assim como a necessidade de implementar metodologias que tenham o aluno como centro de seu próprio aprendizado, especialmente no ensino de cursos da área da saúde (CRUZ et al., 2019).

Ademais, é indispensável que os docentes construam habilidades e competências necessárias ao perfil estabelecido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos de Medicina (DIAS-LIMA et al., 2019). Nesse sentido, a UFFS, em especial no campus Chapecó, em consonância com a irrevogável tendência de modificação no processo de ensino, visa em sua implementação contribuir para a formação de médicos aptos a intervir nas necessidades da população brasileira com uma visão ampliada do processo saúde-doença.

 

2 Objetivo

 

O objetivo do trabalho é analisar o processo de implantação do curso de medicina da UFFS, campus Chapecó, na perspectiva dos docentes das áreas básicas, clínicas e da Saúde Coletiva que fazem parte do curso.

 

3 Metodologia

 

Trata-se de um estudo qualitativo, em que participaram dezoito (n=18) professores do curso de medicina da UFFS, campus Chapecó, sendo cinco das áreas básicas, oito das áreas clínicas (médicos) e cinco da Saúde Coletiva. A coleta de dados ocorreu entre os meses de novembro de 2019 e junho de 2020 por meio de entrevistas individuais audiogravadas, conduzidas a partir de um roteiro orientador. Os dados foram analisados com base na Hermenêutica-Dialética. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFFS por meio do parecer 3.291.611 de 29 de abril de 2019. O subprojeto foi contemplado com uma bolsa pelo edital nº 459/GR/UFFS/2019.

 

4 Resultados e Discussão

 

Foram identificadas as seguintes categorias de análise: motivação para escolher a UFFS como local de trabalho, conhecimento sobre o curso, conhecimento sobre o PPC e as DCN, percepção sobre o PPC e a formação médica na UFFS, dificuldades para implantação do PPC e do curso, desafios encontrados na docência no curso de medicina da UFFS, conhecimento e aplicação de metodologias ativas, postura dos estudantes, saúde mental dos estudantes de medicina, carga horária do curso de Medicina, Domínios Comuns e Conexos, relação do curso de medicina com outros cursos da UFFS, outras fragilidades do curso de medicina da UFFS e outras potencialidades do curso do curso de medicina da UFFS.

As possibilidades de atuar no campo da pesquisa juntamente com a localização geográfica do Campus Chapecó pontuam como os principais motivadores dos entrevistados para escolha da UFFS como local de trabalho. Ademais, a heterogeneidade dos recortes de fala da categoria “conhecimento sobre o curso em que atuaria” foi notável. Dos dezoito docentes participantes da coleta de dados, quinze afirmaram saber previamente que atuariam no curso de Medicina.

A questão do conhecimento sobre o PPC e às DCN seguiu certo padrão. A maioria dos docentes revelou ter pouco ou nenhum entendimento sobre esses pontos no período anterior ao início de sua docência na UFFS. Contudo, houve um aumento geral no nível de compreensão, em especial após a preparação para o concurso e a experiência em sala de aula. No que tange ao PPC, há um consenso de que sua estrutura teórica é adequada à formação de médicos generalistas, porém, os docentes encontram dificuldades em segui-lo na prática. As raízes deste problema incluem o escasso entendimento sobre a teoria que fundamenta o PPC, assim como a pouca preparação pedagógica em relação às novas metodologias de ensino.

Sabe-se que a formação pedagógica para os professores universitários ocorre em suas concepções não profissional e profissional. A não profissional ensina a como se ensinar ensinando, ou seja, é uma reprodução do modelo tradicional. A segunda concepção apresenta o ensino como complexo e desafiador, que necessita de disposição intelectual e exige habilidades básicas alcançadas através de um processo educacional contínuo. Ainda que a área médica seja baseada em ensinamentos anteriormente considerados válidos, deve coexistir a experiência cotidiana prática, desvinculando o reflexo aceito pelos professores da formação não profissional (COSTA, 2010).

Ademais, é evidente que o curso de medicina da UFFS, campus Chapecó, se encontra em estágio de consolidação, processo esse que passa pela inserção dos estudantes nos campos de prática, especialmente na Atenção Básica. Contudo, muitos docentes afirmaram que esses cenários de prática se encontram saturados de estudantes, o que prejudica o aprendizado dos alunos e caracteriza um desafio da docência na UFFS.   Em relação à postura dos estudantes, a maioria dos participantes caracterizou os discentes de medicina como pessoas seguras e esforçadas.

No que tange à saúde mental, é de conhecimento geral que a taxa de suicídio e sofrimento psíquico é mais elevada entre acadêmicos de medicina quando comparado com estudantes de outros cursos de graduação. Assim, o papel do professor na identificação e avaliação de motivos para complicações na saúde mental é uma ferramenta de prevenção, por vezes o aluno se sente humilhado com os trotes e eventuais assédios por parte dos colegas (SILVA et al., 2017). 

A partir dessa observação, ao serem questionados, todos os docentes afirmaram que existe uma implicação direta do curso de graduação em medicina com a saúde mental dos estudantes. A carga horária excessiva e a alta competitividade entre os alunos pontuam como os principais fatores que afetam negativamente a saúde mental dos discentes, na visão dos docentes entrevistados.

Os campos de prática saturados e a falta de um Hospital Universitário foram os pontos mais citados pelos docentes quando questionados sobre as fragilidades do curso. Os desafios relacionados a carga-horária excessiva e as Áreas Verdes escassas também foram apontados como vulnerabilidades. Por outro lado, a interiorização do ensino e a distribuição de universidades em áreas até então desassistidas de universidades federais, dois grandes objetivos da implantação curso de medicina na UFFS, campus Chapecó, foram elencados como potencialidades do curso.

            É importante destacar que a formação diferenciada, proposta pelas novas DCN e pelo PPC, foi citada como o maior potencial do curso. A oportunidade de participar da formação de médicos generalistas é um grande incentivo para os docentes, sentimento corroborado pelo “feedback” dos estudantes que estão cursando o internato médico, que se mostram capazes de atuar de acordo com o perfil desejado pelo curso. Assim, o potencial humano figura como a grande qualidade do curso de medicina da UFFS, campus Chapecó. 

 

5 Conclusão

 

            Na perspectiva dos docentes participantes, o processo de implantação do curso de medicina da UFFS, campus Chapecó, ainda em andamento, possui vulnerabilidades pontuais. Contudo, os mesmos acreditam que a partir do PPC é possível a formação de médicos generalistas, capacitados a atuar na Atenção Básica, como preconizado pelas DCN. Nesse sentido, essa pesquisa pode contribuir para o desenvolvimento do curso, servindo como uma fonte de informações sobre pontos relevantes na formação acadêmica a partir da implantação e implementação das novas DCN.

Publicado
08-10-2020