CARACTERIZAÇÃO DOS CASOS DE INTOXICAÇÃO EXÓGENA EM MUNICÍPIOS DA 6ª COORDENADORIA REGIONAL DE SAÚDE

  • Luis Felipe Chaga Maronezi Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Passo Fundo https://orcid.org/0000-0001-7947-939X
  • Guilherme Assoni Gomes Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Passo Fundo
  • Giovana Bonessoni Felizari Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Passo Fundo
  • Jeanice de Freitas Fernandes Universidade de Passo Fundo
  • Ivana Loraine Lindemann Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Passo Fundo
Palavras-chave: Sistemas de Informação, Doenças e agravos de notificação compulsória, Saúde Pública, Tentativa de Suicídio, Violência

Resumo

1 Introdução

            O termo intoxicação exógena remete a um conjunto de manifestações clínicas ou laboratoriais que revelam um desequilíbrio orgânico produzido pela interação de um ou mais agentes tóxicos com o sistema biológico. Etiologicamente, podem estar relacionadas a substâncias químicas encontradas no ambiente ou isoladas em compostos sintéticos, tais como alimentos, plantas, animais peçonhentos, pesticidas, medicamentos ou produtos de uso domiciliar, embora a maioria seja associada a origem antropogênica. Sua intensidade, de modo geral, está associada à concentração e ao tempo de exposição ao agente tóxico (BRASIL, 2017a).

            Definidas como agravos de notificação compulsória, as intoxicações exógenas são notificadas via Ficha de Investigação no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), responsável pela coleta, transmissão e disseminação das informações acerca das mesmas. Dados dos últimos 13 anos mostram os medicamentos como os principais agentes tóxicos documentados e, estes, comumente relacionados a casos de tentativa de suicídio e de suicídio consumado (BRASIL, 2017a; DATASUS, 2020).

            Consonante a isso e considerando o contexto de elevada frequência de casos no estado do Rio Grande do Sul, bem como, a escassez de trabalhos acerca do tema e relativos à realidade loco regional, torna-se importante identificar características comuns das vítimas de intoxicações. Somado a isso, os resultados poderão servir de subsídio para o mapeamento dos casos e para o estabelecimento de prioridades de atuação sobre grupos mais vulneráveis.

2 Objetivos

            Nesse sentido, o presente estudo buscou caracterizar os casos de intoxicações exógenas agudas autoprovocadas ocorridos nos municípios de abrangência da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde do Rio Grande do Sul, entre os anos de 2013 e 2017.

3 Metodologia

            Foi realizado um estudo observacional ecológico, abrangendo todos os casos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) de 01/01/2013 a 31/12/2017 sob o CID10 T65.9 (Efeito tóxico de substância não especificada) e com circunstância da exposição/contaminação constante como “tentativa de suicídio”. Os dados foram solicitados ao Centro Estadual de Vigilância em Saúde – Núcleo de Vigilância das Doenças e Agravos Não Transmissíveis, em formato de planilha eletrônica, com supressão da identificação do paciente.

            A análise compreendeu a estatística descritiva (frequências absolutas e relativas das variáveis) e a caracterização da amostra foi feita a partir dos dados presentes nas Fichas de Investigação de Intoxicação Exógena, contemplando sexo, idade, cor de pele, escolaridade, zona de residência, situação no mercado de trabalho, ano da notificação, local de ocorrência, agente tóxico, tipo de exposição, necessidade de internação, tipo de atendimento, critério de confirmação, classificação final e desfecho do caso. A análise estatística foi realizada por meio do programa PSPP (distribuição livre).

            Atendendo à resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, o estudo só foi iniciado após ciência da Secretaria Estadual de Saúde e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul (Parecer n° 3.189.541) e da Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (instituição co-participante, Parecer nº 3.257.379).

4 Resultados e Discussão

            Entre 2013 e 2017 foram notificados 948 casos de intoxicação exógena aguda por tentativa de suicídio, com distribuição anual apresentada na Figura 1. 

  Figura_1_-_Resumo_Expandido_JIC.png    

            Estudos que retratem o perfil notificatório na população brasileira são escassos, sobretudo se associados a casos de intoxicação exógena. O último Boletim Epidemiológico disponibilizado pelo Ministério da Saúde, entretanto, apresenta o perfil das tentativas e óbitos por suicídio no Brasil, demonstrando um aumento próximo a 200% no número de casos de lesão autoprovocada notificados entre 2011 e 2016 (BRASIL, 2017b). Embora apresentem dessemelhanças, o presente estudo vai ao encontro do mesmo, demonstrando um aumento súbito de casos no ano de 2017, possivelmente decorrente do aumento no número de notificações dentro dos serviços.

            Foi constatado, ainda, uma amostra com predomínio do sexo feminino (76,4%), resultado consonante com outros estudos disponíveis na literatura que evidenciam as mulheres como mais adeptas ao uso de substâncias em tentativas de suicídio do que homens, estes apresentando tendência ao uso de armas de fogo e ao suicídio efetivo (VIEIRA et al., 2015; VELOSO et al., 2017).

            As demais características estão exibidas na Tabela 1. A importância dos medicamentos como um dos principais agentes utilizados em casos de tentativa de suicídio já é bem estabelecida e a ocorrência na própria residência, como exposição aguda e com subsequente cura sem qualquer sequela também é relatada por autores de outros estados, demonstrando aspectos convergentes dos dados do Rio Grande do Sul com o restante do país (VIEIRA et al., 2015; VELOSO et al., 2017).

Tabela_1_-_Resumo_Expandido_JIC.png

5 Conclusão

            Assim, é notável que casos de intoxicação exógena aguda são um grave problema de saúde pública, sobretudo em eventos de tentativa de suicídio, onde representam um sinalizador de mal estar, sofrimento e psicopatologias na população geral. O presente estudo confirma as tendências apresentadas em outras populações e reforça a necessidade de adoção de medidas intervencionistas no estado do Rio Grande do Sul, englobando identificação de situações de exposição, educação em saúde, medidas de prevenção de reincidências e conscientização geral quanto à importância de preservação da saúde mental.

 

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Intoxicação Exógena. Guia de Vigilância em Saúde, Brasília - DF, v. Único, p. 646-652, 2017a.

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Perfil epidemiológico das tentativas e óbitos por suicídio no Brasil. Boletim Epidemiológico, Brasil, v. 48, n. 30, 2017b.

DATASUS. Ministério da Saúde. Intoxicação Exógena. Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN Net. Brasil, 2020.

VELOSO, C et al. Violência autoinfligida por intoxicação exógena em um serviço de urgência e emergência. Rev Gaúcha Enferm., [s. l.], v. 38, n. 2, 2017.

VIEIRA, LP et al. Caracterização de tentativas de suicídios por substâncias exógenas. Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 118-123, 2015.

Publicado
07-10-2020