Preparados homeopáticos na defesa de plantas de feijoeiro contra a herbivoria de insetos

  • Egabrieli Garbin Universidade Federal da Fronteira Sul- campus Erechim
  • Gabriela de Melo Santiago
  • Tarita Cira Deboni
  • Denise Cargnelutti
Palavras-chave: Homeopatia; altas diluições dinamizadas, proteossintese; enzimas; feijão.

Resumo

PREPARADOS HOMEOPÁTICOS NA DEFESA DE PLANTAS DE FEIJOEIRO CONTRA A HERBIVORIA DE INSETOS[1]

 

EGABRIELI GARBIN [2],[3]*, GABRIELA DE MELO SANTIAGO[4], TARITA CIRA DEBONI[5], DENISE CARGNELUTTI2,[6]

 

1 Introdução/Justificativa

A homeopatia é a ciência que se baseia no uso de preparados diluídos e sucussionados como meio de incitar respostas ao organismo doente para restabelecer seu equilíbrio (BOFF, 2009). A utilização de preparados homeopáticos na produção vegetal tem efeitos em processos fisiológicos das plantas, podendo atuar como indutores de resistência a pragas e insetos, além de auxiliar a manter a produtividade através da indução de metabólitos secundários diante de situações de estresse (MORENO, 2017).

 

2 Objetivos

O objetivo deste trabalho foi avaliar o conteúdo de proteínas totais e a atividade da enzima peroxidase (APX) em plantas de feijoeiro submetidas ao tratamento com preparados homeopáticos e a herbivoria da lagarta de Helicoverpa armigera (Hübner, 1809) (Lepidoptera: Noctuidae).

 

3 Material e Métodos/Metodologia

Os experimentos foram conduzidos em estufa climatizada e no Laboratório de Entomologia e Bioquímica da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim. As sementes de feijão, cultivar BRS Esteio, foram semeadas em vasos com substrato em volume de 5 L. Os tratamentos foram os preparados homeopáticos: Arsenicum album 6CH, Silicea 6CH, Sulphur 6CH e Staphisagria 12CH (CH - centesimal hahnemanniana), comparados com controle com água destilada. Todas as dinamizações foram adquiridas em farmácia homeopática, em álcool 5%. Por ocasião da aplicação, os preparados foram diluídos na proporção de 1%, sendo aplicados diretamente no substrato dos vasos em volume de 40 mL vaso-1. A primeira aplicação foi no 7° dia após a semeadura (DAS) e a reaplicação ocorreu a cada sete dias, até o momento da coleta das plantas para análise. Aos 30 DAS, as plantas em estágio V4 foram mantidas em arenas separadas por tratamento e submetidas a estresse de herbivoria causado pela lagarta de H. armigera, colocadas sobre as folhas e mantidas ali por 4 dias. As plantas com dano foram coletadas, acondicionadas em sacos de alumínio e transportadas em caixa de isopor com gelo, acondicionadas em freezer (-20o C) até o momento das análises bioquímicas.

As amostras vegetais foram maceradas em nitrogênio líquido e homogeneizadas em uma proporção de 1g de extrato para 3 mL de tampão fosfato de sódio 0,05 M (pH 7,8) contendo 0,1 mM EDTA (ácido etilenodiamino tetra-acético) e 2% de PVP (poli-vinil-pirrolidona). O homogeneizado foi centrifugado a 9.500 rpm por 20 minutos a 4°C, sendo o sobrenadante coletado e utilizado posteriormente para as avaliações. Para o doseamento de proteínas o método empregado foi o de Bradford (1976), utilizando-se 50 μL de amostra mais  2,5 mL do reagente de leitura Comassie. Após cinco minutos foi realizada a leitura a 595 nm em espectrofotômetro. Os valores de absorbância obtidos para as amostras foram comparados com uma curva padrão com concentrações conhecidas de albumina de soro bovina (ASB). Para a quantificação da atividade da enzima ascorbato peroxidase (APX), foi utilizado o homogeneizado obtido por centrifugação mencionado em etapa anterior, sendo a quantificação da atividade da enzima realizada de acordo com metodologia descrita em Zhu et al. (2004).

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco repetições. Os dados foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Scott-Knott a 0,05 de probabilidade, utilizando-se o software estatístico Sisvar.

 

4 Resultados e Discussão

O preparado homeopático Arsenicum album 6CH causou maior incremento de proteína na parte aérea do vegetal e de APX nas raizes de feijoeiro após estresse por herbivoria, quando comparados aos demais preparados homeopáticos testados e ao controle (Tabela 1).

Um aumento na concentração de proteína pode ser benéfico para a defesa da planta, visto que segundo a teoria da trofobiose, proposta por Chaboussou (2006), tal aumento, devido a proteossíntese, é observado em tecidos resistentes a pragas e a problemas fitossanitários.

A enzima APX promove remoção do peróxido de hidrogênio, uma espécie reativa de oxigênio, a qual também é responsável pela indução da expressão gênica de proteínas de defesa e estímulo a atividade de enzimas antioxidantes (BHATTACHARJEE, 2012).

 

5 Conclusão

O preparado homeopático Arsenicum album 6CH induziu a síntese de proteínas em folhas bem como estimulou a atividade da enzima ascorbato peroxidase (APX) em raízes de feijoeiro em situação de estresse por herbivoria, causado por lagartas de Helicoverpa armigera. Esse resultado indica que a homeopatia pode ser utilizada como indutora de mecanismos bioquímicos de defesa em plantas.

 

Tabela 1. Concentração de proteína (mg/L) em folhas e enzima ascorbato peroxidase (APX) (ƞmol/min-1 mg-1 proteína) em raízes de feijoeiro, estágio V4, tratado com preparados homeopáticos, após herbivoria da lagarta Helicoverpa armigera. Erechim, 2019.

Tratamentos

Proteína

APX

Arsenicum album 6CH

0.731 b

1.600 b

Silicea 6CH

0.500 a

0.500 a

Staphisagria 12CH

0.499 a

0.487 a

Sulphur 6CH

0.393 a

0.513 a

Controle

0.408 a

0.408 a

CV (%)

30,79

66,9

 

 

 

 

 

 

Referências

BHATTACHARJEE, S. The Language of Reactive Oxygen Species Signaling in Plants. Journal of Botany, v. 985298, n. 1, p. 1–22, 2012.

 

BOFF, P. Saúde vegetal e a contribuição da homeopatia na transição ecológica da agricultura. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 4, n. 2, p. 3963–3966, 2009.

 

BRADFORD, M. A Rapid and Sensitive Method for the Quantitation of Microgram Quantities of Protein Utilizing the Principle of Protein-Dye Binding. Analytical Biochemistry, v. 72, n. 1–2, p. 248–254, 7 maio 1976.

 

CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: novas bases de uma prevenção contra doenças e parasitas: a teoria da trofobiose. São Paulo, SP: Expressão Popular, 2006.

 

MORENO, N. M. Agrohomeopatía como alternativa a los agroquímicos. Revista Medica de Homeopatia, v. 10, n. 1, p. 9–13, 2017.

 

ZHU, Z. et al. Silicon alleviates salt stress and increases antioxidant enzymes activity in leaves of salt-stressed cucumber (Cucumis sativus L.). Plant Science, v. 167, n. 3, p. 527–533, 2004.

 

Palavras-chave: Homeopatia; altas diluições dinamizadas; proteossíntese; enzimas; feijão.

 

Financiamento: CNPQ e UFFS.

 

 

 

 

 

[1]Título do projeto (Edital Nº 681/GR/UFFS/2017): Estudos sobre homeopatia vegetal: a homeopatia como ferramenta para promover a defesa de plantas de feijoeiro contra a herbivoria de insetos.

[2] Acadêmica do curso de Agronomia, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Erechim, contato: egabrieligarbin@gmail.com

[3]Grupo de Pesquisa: Agricultura Famíliar e Transição Agroecológica (AFTA)

[4]     Acadêmica do curso de Agronomia, UFFS, Campus Erechim.

[5]Mestre em Produção Vegetal, UFFS, Campus Erechim.

[6]Doutora em Bioquímica, UFFS, Campus Erechim.  Orientadora.

Publicado
23-09-2019