USO DE ARMADILHAS LUMINOSAS NA AVALIAÇÃO DA REPRODUÇÃO DE PEIXES MIGRADORES NO MÉDIO RIO URUGUAI

  • Rodrigo Bastian Universidade Federal da Fronteira Sul
  • David Augusto Reynalte-Tataje
Palavras-chave: Espécies migradoras, metodologia de captura, Ictiofauna

Resumo

 

Uso de armadilhas luminosas na avaliação da reprodução de peixes migradores no Médio rio Uruguai

Rodrigo Bastian¹, David Augusto Reynalte-Tataje²

1 Introdução/Justificativa

O declínio dos estoques pesqueiros tem constituído sólida evidência das transformações negativas associadas à expansão hidrelétrica. As espécies de maior valor comercial são peixes migradores, os quais exigem diferentes habitats para cumprir o ciclo de vida (ZANIBONI-FILHO & SCHULZ, 2003) assim eles requerem amplos trechos livres da bacia, onde se deslocam por grandes distâncias. Diversos estudos têm sido realizados no rio Uruguai para conhecer melhor a reprodução das espécies migradoras, estes estudos estão concentrados principalmente no trecho superior desta bacia que se caracteriza pelos reservatórios em cascata. Nesse cenário, o médio Rio Uruguai com 900 km sem barramentos oferece a possibilidade de entender a reprodução de peixes migradores em condições mais primitivas, uma vez que longos trechos de rios são raros.

2 Objetivos

O presente estudo teve como objetivo investigar a reprodução das espécies de peixes migradores do Médio rio Uruguai e a eficiência das armadilhas luminosas. Este projeto visou também dar uma indicativa da distribuição espacial e temporal das larvas e espécies neste rio.

3 Material e Métodos/Metodologia

O trecho amostrado encontra-se no Médio rio Uruguai e a coleta dos dados foi realizada ao longo de 530 km na calha do rio principal em quatro pontos amostrais (Figura 1). Os pontos em que foram feitas as coletas dos dados representam um trecho de rio continuo sem influência de barramentos. Para a captura dos peixes foram utilizadas armadilhas luminosas confeccionadas a partir de tubos de PVC, com redes do tipo cônico-cilíndrica de 500 µm e um copo coletor em seu final, a isca luminosa foi provida por lâmpadas LEDs de 20 W cor verde. As amostragens de ictioplâncton foram realizadas mensalmente, entre o período de novembro de 2018 a fevereiro de 2019. Foram utilizadas no estudo três armadilhas e dois dias amostrados, totalizando seis armadilhas por local. As larvas capturadas foram identificadas ao menor nível taxonômico possível. Exemplares de larvas capturados dos diferentes táxons serão depositados no Museu do Nupélia (Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura) da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

4 Resultados e Discussão

Nesse estudo, foram coletados um total de 760 peixes distribuídos em 6 ordens, 21 famílias e 51 espécies. As ordens que apresentaram maior abundância no número de indivíduos foi a Characiforme e Siluriforme, o que tem sido evidenciado em outras bacias, sendo este um padrão para ambientes neotropicais de água doce. Foram capturadas 100 larvas pertencentes a duas ordens, distribuídas em 12 famílias e 21 espécies. Das ordens capturadas os Characiformes foram os mais abundantes, com 67 indivíduos pertencentes a 12 espécies e seis famílias, seguidos pelos Siluriformes com 33 indivíduos, nove espécies e seis famílias. Foram capturados larvas de espécies de peixes migradores do médio Rio Uruguai de alto valor comercial e pesqueiro, tais como Megaleporinus obtusidens (Valenciennes, 1837) e Pimelodus maculatus (Lacepede, 1803). É importante também destacar a captura de larvas de Pircanjuba Brycon orbignyanus (VALENCIENNES, 1850), espécie de peixe migrador criticamente ameaçado de extinção (Rio Grande do Sul, 2014). Avaliando a distribuição espacial, os pontos com maior representatividade na captura de larvas foram os a jusante da área amostral, sendo os pontos de Itaqui (P4) com 81 indivíduos, seguido por São Borja (P3) com 24 indivíduos. Foram observadas diferenças nos meses amostrais, sendo uma maior captura de larvas em dezembro. Foram capturados 660 adultos pertencem a seis ordens, distribuídos em 15 famílias e 39 espécies. Dos quais, os Characiformes foram os mais abundantes, com 400 indivíduos pertencentes a 23 espécies e seis famílias, seguidos pelos Siluriformes com 231 indivíduos, cinco famílias e 10 espécies.  Cabe destacar a captura de espécies de peixes migradores de alto valor comercial e pesqueiro para a bacia, tais como, Megaleporinus obtusidens (Valenciennes, 1837), Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837) e Pimelodus maculatus (Lacepede, 1803).

5 Conclusão

Através desse trabalho podemos contribuir para a avaliação da eficiência das armadilhas luminosas no Brasil, pois estudos como este são poucos ou ausentes em nosso país. Por outro lado, existem poucos dados publicados sobre a reprodução dos peixes e coletas de larvas na bacia hidrográfica do Médio rio Uruguai, este estudo contribuiu também com uma indicativa da distribuição espacial e temporal das larvas e espécies neste rio que atualmente é alvo da expansão hidrelétrica.

 

 

Figura 1. Área de estudo no Médio rio Uruguai, localizada nos municípios de Derrubadas (P1), Porto Vera Cruz (P2), São Borja (P3) e Itaqui (P4).

Referencias

ZANIBONI-FILHO, E.; SCHULZ, U. H.. Migratory Fishes of the Uruguay River. In: CAROLSFELD, J.; HARVEY, B.; ROSS, C.; BAER, A. Migratory Fishes of South America: Biology, Fisheries and Conservation Status. Washington: The World Bank, 2003. p. 157-195.

 

 

Publicado
29-08-2019