BIOFERMENTADO DE TROPAEOLUM MAJUS PARA CONTROLE DA FERRUGEM BRANCA EM RÚCULA

  • Telmar Moraes Welter Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Marcos Paulo Bertolini da Silva Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Angelita Muzzolon
  • Emanoeli Schllemer
  • Gilmar Franzener

Resumen

1 Introdução/Justificativa

A produção de alimentos depende de inúmeros fatores como clima, tipo de solo, disponibilidade de custeio para maquinários e insumos agrícolas. A necessidade de insumos agrícolas como fertilizantes e agrotóxicos encarece a produção além de deixar resíduos não desejados nos alimentos, como moléculas de herbicidas, inseticidas e fungicidas. Algumas doenças, no entanto, como a ferrugem branca que ocorre em algumas espécies da família das Brassicaceae, não possuem produtos registrados para seu controle. A cultura rúcula (Eruca sativa), apesar de não possuir grande expressão econômica, é um importante alimento cultivado em pequenas áreas, a qual é comumente afetada pela ferrugem branca, causada pelo microrganismo Chromista Albugo candida (BARBETTI et al., 2016). Plantas medicinais são comumente utilizadas devido apresentar benefício a saúde humana, no entanto, também podem ser utilizados para promover a saúde em plantas. Algumas espécies medicinais pouco conhecidas, porém com elevada produção de metabólitos secundários como a capuchinha (Tropaeolum majus) apresentam potencial de controle sobre míldios (organismos que apresentam características em comum com a ferrugem branca). No entanto não há informações sobre a utilização de biofermentados da planta, o qual pode viabilizar o seu uso como produto alternativo no controle da ferrugem branca em sistemas de produção comercial.

 

2 Objetivos

            Avaliar o efeito de biofermentados de capuchinha na proteção de plantas de rúcula à ferrugem branca e indução de enzimas relacionadas a defesa vegetal em rúcula.

           

3 Material e Métodos

O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Fitopatologia da UFFS campus Laranjeiras do Sul, PR. Para o preparo dos biofermentados, folhas frescas de Tropaeolum majus foram maceradas na proporção de 100 g/L de água destilada, que foram acondicionadas em garrafas pet (2 L) por 0, 5, 10, 15, 20 dias no escuro a 25ºC, com e sem a adição de açúcar mascavo a 3%. Água destilada constituiu a testemunha. Os preparados foram agitados diariamente por 1 minuto. Albugo candida foi coletado de plantas infectadas de rúcula e nabo forrageiro (Raphanus sativus L.). A concentração de esporos foi ajustada com auxílio de câmara de Neubauer para concentração de 1 x 104 esporos por mL.

Experimento com plântulas foi conduzido em bandejas de isopor, nas quais as plântulas foram tratadas com o biofermentado aos 10 dias após semeadura. Após 48 horas, foi realizada a coleta da parte aérea e armazenagem em freezer a -20ºC até a realização das análises bioquímicas. Para o experimento em plantas adultas, essas foram conduzidas em casa de vegetação em vasos com substrato comercial e solo na proporção de 1:1, com 5 plantas/vaso por 30 dias, que também foram tratadas. Após 48 horas foi realizado a coleta de 5 discos foliares com diâmetro de 1,2 cm/ folha por repetição, os quais foram pesados identificados e armazenados a -20oC para análises de atividade enzimática. Em outro experimento em casa de vegetação, nos mesmos moldes do anterior, 48h após os tratamentos as plantas foram inoculadas com suspensão de esporos para posterior avaliação da severidade do patógeno.

Para realizar as análises bioquímicas das enzimas, as amostras foram maceradas em almofariz e pistilo, acrescidas de 2 mL de tampão fosfato 0,01M (pH 6,0), e 1% de PVP (polivinil-pirrolidona) e centrifugadas a 14.500 g por 20 min a 4 ºC e o sobrenadante obtido constituiu o extrato enzimático. Quantificou-se espectrofotometricamente o conteúdo de peroxidase e polifenoloxidase. A atividade de peroxidases foi determinada pela medida da conversão do guaiacol em tetraguaiacol (LUSSO & PASCHOLATTI, 1999), a 470 nm, sendo a mistura constituída de 0,2 mL de extrato proteico e 2,8 mL do substrato para enzima (306 μL de peróxido de hidrogênio P.A., 12,5 mL de guaiacol a 2% e 87,5 mL de tampão fosfato 0,01 M (pH 6,0), conduzida a 30°C por 1 min. Para polifenoloxidase mediu-se a oxidação do catecol em quinona por 1 minuto a 420 nm (DUANGMAL & APENTEN, 1999). Os resultados foram submetidas a análise de variância e de regressão com auxílio do programa Sisvar.

 

4 Resultados e Discussão

Para atividade enzimática nas plântulas de rúcula maior atividade de peroxidases foi observada aos 0 dias com açúcar (ainda sem fermentação). Nos tempos de fermentação partir dos 10 dias com açúcar houve efeito fitotóxico sobre as plântulas, não sendo possível a avaliação. se mantendo até o final. O biofermentado sem açúcar também promoveu indução de peroxidase com destaque para os tempos de 5 e 20 dias de fermentação. Para polifenoloxidase em plântulas os resultados foram semelhantes. O tratamento com açúcar e 0 dias também induziu atividade, no entanto, o tratamento sem açúcar de forma geral foi o que induziu a maior atividade da enzima, com maior indução nos tempos de 5, 10 e 20 dias de fermentação.

Em plantas adultas a atividade da peroxidase foi maior no biofermentado sem açúcar com 0 dias de fermentação e no biofermentado com açúcar com 20 dias de fermentação. Tanto com e sem açúcar houve ajuste de equação quadrática significativa. Para polifenoloxidase em plantas maior atividade foi obtida com o biofermentado com açúcar e 20 dias de fermentação, embora não tenha sido possível ajustar uma linha de tendência pois a maioria dos outros tempos de fermentação foram próximos a testemunha. Essas enzimas podem representar importante papel na resposta da planta a doenças (LUSSO; PASCHOLATI, 1999), assim esse efeito dos biofermentados podem contribuir na indução de resistência em rúcula.

No experimento de proteção de plantas não houve manifestação da doença nas plantas adultas não sendo possível avaliação da severidade, possivelmente devido a seu comportamento biotrófico e dependente de condições específicas de desenvolvimento e infecção das plantas.

 

5 Conclusão

Biofermentados com açúcar e mais de 10 dias de fermentação apresentaram efeito fitotóxico em plantas. Houve indução de enzimas de forma diferencial em plântulas e plantas. De maneira geral plantas e plântulas tratadas com os biofermentados em diferentes tempos de fermentação e com açúcar ou não apresentaram atividades enzimáticas maiores do que a testemunha. O biofermentado com açúcar de maneira geral promoveu maior atividade da polifenoloxidase em plantas adultas, enquanto o sem açúcar induziu maior atividade desta enzima nas plântulas.

Publicado
19-08-2019