PADRONIZAÇÃO DO PROGRAMA DE PONTUAÇÃO DE AFECÇÕES RESPIRATÓRIAS EM OVINOS

  • Leticia Viviane de Jesus Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Fabiana Rankrape
  • Michele dos Santos
  • Luana Carolina Bachmann Gregolin
  • Maiara Garcia Blagitz Azevedo

Resumen

A ovinocultura está disseminada mundialmente devido a sua adaptabilidade a diferentes climas, e pela importância na produção de carne, leite e lã (VIANA, 2008). Segundo o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017 o rebanho brasileiro era de 18 milhões de ovinos no país. Destes, a Região Nordeste concentrou 64,2% do rebanho nacional e a Região Sul se destacou na tosquia de ovinos, sendo responsável por 99% da produção de lã no Brasil (IBGE, 2017). A criação dessa espécie cresceu significativamente nos últimos anos, devido ao melhoramento genético e as técnicas de manejo adequado, proporcionando aumento na produtividade e tornando-se de grande importância econômica para o país (VIANA, 2008).

Afecções que acometem o sistema respiratório de ovinos causam altas taxas de mortalidade, acarretando perdas no rebanho, ocasionado pelo estresse físico, associados com agentes virais e bacterianos (VIANA et al., 2007). Desta forma, estas enfermidades geram prejuízos econômicos, sendo importante o diagnóstico na fase inicial, pois é extremamente importante, na tentativa de diminuir a evolução do quadro clínico, a sua disseminação, a taxa de mortalidade e redução de custos com tratamento (GONÇALVES, 2009).

O objetivo desse trabalho foi obter através de um programa utilizado para bovinos, a padronização de diagnóstico, estimativa, precisão e a eficácia do mesmo no diagnóstico de afecções respiratórias em ovinos.

Primeiramente o estudo foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) e o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

Foram avaliados 202 animais sadios e com sinais clínicos compatíveis com doenças respiratórias, nas regiões Sul (Realeza-PR) e Sudeste (Itapólis-SP, Ibitinga-SP, Taquaritinga-SP). Inicialmente, foram coletadas informações sobre o histórico da propriedade (FEITOSA, 2008) para verificar se houve histórico da doença no rebanho.

Os animais foram examinados e avaliados de acordo com o programa desenvolvido pela School of Veterinary Medicine University of Wisconsin-Madison com algumas modificações para ovinocultura. Foi avaliado e pontuado as manifestações clínicas compatíveis com as enfermidades respiratórias como a presença de secreção nasal. Sendo, lateralidade: escore 0 (nenhum), 1 (unilateral), 2 (bilateral); tipo: 0 (nenhum), 1 (serosa), 2 (mucosa), 3 (mucopurulenta); quantidade: 0 (nenhum), 1 (pequena quantidade), 2 (grande quantidade); secreção ocular: 0 (normal), 1 (pequena quantidade), 2 (moderada quantidade), 3 (grande quantidade) e analisado a presença ou não de tosse. Foi auscultado com estetoscópio a frequência cardíaca e respiratória, sons respiratórios, movimentos ruminais e com o uso de termômetro digital mensurado a temperatura corporal e observado o tipo respiratório (ofego).

Com base nos resultados da pesquisa dos 202 animais avaliados, 177 (88%) eram fêmeas e 25 (12%) eram machos. A idade média foi de 2 anos, sendo a mínima de 6 meses e a máxima de 3 anos. Dos ovinos analisados, 163 (81%) eram deslanados e 39 (19%) eram lanados. Em relação aos parâmetros fisiológicos: a frequência respiratória (mov./min) média e

o desvio-padrão foi de (55,5±19,5), a frequência cardíaca (bat./min) média e o desvio-padrão

foi de (133± 23), a temperatura (°C) média e o desvio-padrão foi de (38,4±0,7); em relação aos movimentos ruminais a média foi de 1,6 mov./2 min. Com base na literatura os valores normais da frequência cardíaca em ovinos adultos é de 90 a 115 (bat./min), a frequência respiratória de 20 a 30 (mov./min) e a temperatura corporal é de 38,5 a 40 °C (FEITOSA, 2008). Nos resultados apresentados observa-se um aumento na frequência cardíaca e respiratória, tal fato pode estar associado ao manejo e também as doenças respiratórias. O trabalho foi desenvolvido durante o inverno, estação que apresenta baixas temperaturas e alta umidade, sendo um fator predisponente para as enfermidades respiratórias.

Para cada animal analisado foi atribuído uma pontuação correspondente para cada sinal clínico apresentado, onde obteve-se na lateralidade 44 animais (22%) com escore 0, 3 (1%) com escore 1, e 155 (77%) com escore 2. Em relação ao tipo de secreção nasal, 46 (23%) ovinos não apresentaram nenhum tipo de secreção, 142 (70%) apresentaram secreção serosa, 13 (6%) secreção mucosa e 1 (1%) secreção mucopurulenta. Segundo Gonçalves (2008) o tipo seroso corresponde a processos virais, alérgicos e precede a secreção de infecções ou inflamações; a mucopurulenta é o resultado de processos infecciosos e corpos estranhos. Em relação a quantidade de secreção nasal: 46 (23%) animais não apresentaram, 133 (66%) pequena, 23 (11%) grande. Na secreção ocular 200 (99%) não apresentaram, 2 (1%) apresentaram pequena quantidade de secreção. E tosse não foi identificado em nenhum dos animais.

Devido esses animais viverem soltos e em instalações abertas em 100% das propriedades, havendo uma predisposição a contrair doenças respiratórias, os resultados acima demonstram que 70% dos animais analisados apresentam secreção serosa, que está relacionada a doenças do sistema respiratório (FEITOSA, 2008). Entretanto, conforme observado durante a aplicação do questionário 100% dos produtores afirmaram que não havia histórico de doenças respiratórias no rebanho. Destacando-se a importância de padronizar e treinar os produtores e técnicos para identificação e tratamento adequado dessas afecções.

Com base nos resultados obtidos a padronização do programa de pontuação de afecções respiratórias em ovinos é de extrema importância, pois houve uma grande prevalência dessa afecção, contudo não havia um correto diagnóstico da mesma. Assim, o treinamento de produtores e técnicos para o correto diagnóstico das doenças respiratórias é imprescindível.

Publicado
09-09-2019