O ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO PEDAGÓGICO DO CONTEÚDO

  • Alexandra Carniel UFFS
Palavras-chave: Docência. Prática educativa. Realidade Escolar

Resumo

 

 

 O ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO PEDAGÓGICO DO CONTEÚDO

Alexandra Carniel[1]

RESUMO
O estágio na formação docente é a base para a experimentação de práticas pedagógicas, na reflexão de teorias e no exercício da docência. É nesta etapa que o acadêmico de licenciatura percebe a verdadeira realidade escolar, os principais desafios e dificuldades da profissão e passa a refletir sobre tais contextos, é no estágio em que o futuro professor começa a desenvolver o conhecimento pedagógico do conteúdo, através de questionamentos sobre, como ensinar, qual a melhor metodologia e recursos didáticos a utilizar, e a refletir sobre sua atuação docente.  O conhecimento pedagógico do conteúdo está relacionado ao planejamento das aulas, a instrução e linhas de pesquisa seguidas pelo professor, aos referenciais teóricos, as epistemologias orientadoras e as práticas pedagógicas e recursos didáticos utilizados durante o momento aula. O presente trabalho tem o objetivo de apresentar a importância do estágio na formação de professores e na construção do conhecimento pedagógico do conteúdo geográfico. Justifica-se na necessidade de compreender a importância do estágio na formação de saberes específicos da disciplina ministrada e nos saberes pedagógicos, sobre como transformar os conhecimentos científicos em ensino e posteriormente em aprendizagens significativas. A metodologia utilizada é qualitativa, com base em pesquisa teórica a partir da revisão bibliográfica do trabalho de alguns autores, referentes à importância do estágio e a formação docente, dialogando com autores referentes ao conhecimento pedagógico do conteúdo.

  • Palavras-chave: Docência. Prática educativa. Realidade escolar.

INTRODUÇÃO

O estágio é uma etapa fundamental na constituição do professor, na busca de metodologias de ensino e práticas educativas que instiguem os alunos, na seleção de conteúdos, na melhor administração do momento e do tempo aula. É uma etapa importante na construção da identidade do professor e na formação do conhecimento pedagógico do conteúdo. O presente trabalho tem o objetivo de apresentar a importância do estágio na formação de professores e na construção do conhecimento pedagógico do conteúdo geográfico. Justifica-se na necessidade de compreender a importância do estágio na formação de saberes específicos da disciplina ministrada e nos saberes pedagógicos, sobre como transformar os conhecimentos científicos em ensino e posteriormente em aprendizagens significativas.  A metodologia utilizada é qualitativa, com base em pesquisa teórica a partir da revisão bibliográfica, referentes à importância do estágio e a formação docente, será dialogado com: PASSINI(2013),CAVALCANTI (2012) PAIM; PEREIRA(2016), relacionando com o conhecimento pedagógico do conteúdo a partir dos seguintes autores: SHULMAN (1987), LOPES (2010), LOPES; PONTUSCKA( 2011) .

REVISÃO DA LITERATURA E DISCUSSÃO

O estágio na formação docente é a base para a experimentação de práticas pedagógicas, na reflexão de teorias e no exercício da docência. É no estágio que o acadêmico passa a problematizar as instituições de ensino, os professores e os alunos, buscando metodologias e referenciais teóricos para superar tais problemas. É no estágio que o acadêmico de licenciatura percebe a realidade escolar, os principais desafios e dificuldades da profissão e passa a refletir sobre tais contextos, como professor.

A prática de ensino e estágio supervisionado “[...] são segmentos importantes na relação entre trabalho acadêmico e a aplicação de teorias, representando a articulação dos futuros professores com o espaço de trabalho, a escola, a sala de aula e as relações a serem construídas”. (PASSINI, 2011, p.27).

A identidade do professor é constituída por seus saberes experienciais, na historicidade da prática docente, nos estudos epistemológicos, nos encaminhamentos didático-pedagógicos e na ação-reflexão cotidiana da prática educativa.

Em linhas gerais as principais dificuldades enfrentadas durante a realização do estágio, são: a administração do tempo e momento aula, a insegurança sobre quais recursos didáticos utilizar, a dúvida sobre de que maneira é melhor abordar determinado assunto, e como levar em consideração os conhecimentos prévios do aluno.  Percebemos assim a relevante importância do professor conhecer e ter domínio dos conhecimentos específicos científicos de sua área de atuação, mas também a importância dos conhecimentos pedagógicos, de saber mediar de forma produtiva os conteúdos aos discentes.

A produção de saberes sobre a docência deve acontecer desde e a partir dos estudos epistemológicos, didáticos e pedagógicos da Geografia enquanto ciência de referência para a disciplina escolar, fundamentando os professores em formação para a compreensão científica do seu temário. Aliando-se a isso os conhecimentos das ciências da educação, basilares ao entendimento dos processos de desenvolvimento e aprendizagem e da organização dos processos educativos. (PAIM; PEREIRA, 2016, p.3).

Defendemos aqui a proposta do conhecimento pedagógico do conteúdo geográfico, proposta inicialmente por (SHULMAN, 1987) e posteriormente por (LOPES, 2010) e (LOPES; PONTHUSCKA, 2011) em que é necessária a integração dos conhecimentos científicos e dos conhecimentos pedagógicos para o pleno desenvolvimento do conhecimento.

A teoria do conhecimento pedagógico do conteúdo inicialmente foi proposta por Lee Schulman (1987) para designar os conhecimentos específicos do professor, desenvolvendo pesquisas sobre o saber docente, com trabalhos referentes à formação de professores, ao ensino e as políticas públicas. Dando ênfase ao modo como os conhecimentos científicos de determinada disciplina são transformados em ensino, sobre o que se ensina, e como ensinar, e qual a metodologia a utilizar, para transformar o conteúdo em ensino e posteriormente em aprendizagem.

Para Shulman (1987) o conhecimento pedagógico do conteúdo é específico para professores e estabelecido e adquirido através da prática. Refere-se à interação entre a prática e a pedagogia, os conhecimentos científicos e as práticas pedagógicas. É a maneira de transformar os conhecimentos científicos, as bases fundamentais das diversas ciências em práticas pedagógicas eficazes na construção do conhecimento.  Para Shulman (1987) o conhecimento pedagógico do conteúdo (PCK) refere-se: “[...] a capacidade de um professor para transformar o conhecimento do conteúdo que ele possui em formas pedagogicamente poderosas e adaptadas às variações dos estudantes levando em consideração as experiências e bagagens dos mesmos.” (SHULMAN, 1987).

O conhecimento pedagógico do conteúdo está relacionado ao planejamento das aulas, a instrução e linhas de pesquisa seguidas pelo professor, aos referenciais teóricos, as epistemologias orientadoras e as práticas pedagógicas e recursos didáticos utilizados durante o momento aula. Levando em consideração as experiências, vivências e realidades de professores e alunos, fatores estes, que interferem no processo de ensino e aprendizagem. “[…] Uma vez que não há simples formas poderosas de representação, o professor precisa ter às mãos um verdadeiro arsenal de formas alternativas de representação, algumas das quais derivam da pesquisa enquanto outras têm sua origem no saber da prática. “(Shulman, 1986). O conhecimento pedagógico do conteúdo acompanha a constante e incessante formação enquanto professor, e profissional do ensino, através do desenvolvimento das habilidades, das linhas de pesquisa, e das práticas educativas, fatores estes que são aprimorados durante toda a carreira profissional do professor.

O professor não como transmissor de conteúdos, mas como, o principal instrumento no processo de ensino-aprendizagem. Como um profissional com potencial e que precisa ser mais ouvido nas propostas curriculares, nas demandas e reformas do ensino e na implementação de políticas educativas.  O trabalho docente precisa de uma revalorização, pois é através de seus saberes emergentes, que ocorre a construção de sua profissionalidade e a essencialidade de sua profissão para a existência e a formação de outros profissionais. 

A simples prática pedagógica do professor envolve um sistemático e complexo rol de saberes de diferentes abordagens, adquiridos por meio de experiências práticas e reflexões teóricas. Ao professor licenciado em Geografia, além de deter o domínio sobre a sua ciência e saber a real importância da disciplina que ministra, deve conhecer suas didáticas, e buscar contextualizá-la a realidade e cotidiano dos alunos. Tornando, desta maneira, os conteúdos relevantes e as aprendizagens geográficas significativas.

O papel do geógrafo/professor de geografia é fundamental na formação de cidadãos críticos que saibam ler, desvendar e contextualizar as realidades espaciais contemporâneas. Compreendendo as dinâmicas da sociedade humana, despertando o olhar e a racionalidade geográfica, sobre os processos, fenômenos e relações expressas de diferentes modos no espaço geográfico.  Para Lopes (2010, p.188):

[...] Mais do que um amontoado de conteúdos tomados em si mesmo, os professores devem compreender que a função da geografia no currículo escolar é possibilitar ao aluno o desenvolvimento de “um olhar diferente sobre o mundo” uma maneira mais específica de pensar, “um olhar geográfico” Tudo é Geografia? Não! É o professor que ao desenvolver seu conhecimento pedagógico-geográfico, esse seu especial saber oportuniza aos alunos ver o sentido geográfico de tudo. Mais do que dominar fragmentos de informações variadas, “o professor experimentado” se define como um profissional que pode formar estruturas amplas e poderosas no desenvolvimento de seu trabalho. (LOPES, 2010, p.188).

Torna-se necessária a construção de uma educação geográfica, pautada na reflexão crítica dos conteúdos e não apenas na mera descrição de fenômenos e relações, que não são interligados e não exercem significado e importância para o aluno. É importante problematizar, ressignificar e contextualizar os conteúdos geográficos, articulando desta maneira os conhecimentos específicos da ciência geográfica com a prática educativa, de como ensinar, para quem ensinar e por que ensinar?

Na escola, portanto, o ensino das diferentes matérias escolares, a metodologia e os procedimentos devem ser pensados em razão da cultura dos alunos, da cultura escolar, do saber sistematizado e em razão, ainda, da cultura da escola. A tensão entre a seleção a priori de um conhecimento, a organização do trabalho pedagógico na escola e a identidade de alunos e professores deve ser a base para a definição do trabalho docente. Nesse sentido, ensinar geografia é abrir espaço na sala de aula para o trabalho com os diferentes saberes dos agentes do processo de ensino, alunos e professores. (CAVALCANTI, 2012, p. 45).

O conhecimento pedagógico do conteúdo leva em consideração as especificidades das disciplinas, as perspectivas epistemológicas e didático-pedagógicas e sua inter-relação com o conteúdo disciplinar, o contexto escolar e a prática pedagógica. Desta forma, o conhecimento pedagógico do conteúdo geográfico é fundamental no processo de ensino-aprendizagem, na formação de conhecimentos e aprendizagens significativas ao aluno, na formação da criticidade e na intervenção no mundo, através de um viés geográfico que problematize os problemas da realidade.

Em suma, essa categoria de conhecimento profissional vislumbra um cenário em que a prática e a formação docente devem ser constantemente revitalizadas por meio da reflexão sobre o ato de ensinar, na qual se considera integradamente e no interior de um projeto educativo maior, a singularidade do contexto em que se ensina, a especificidade da disciplina ministrada e os meios mais adequados para ensiná-la. Ou seja, o CPC evolui e se desenvolve com a experiência do professor. Tem-se, por isso, um movimento contínuo de ensino e aprendizagem, no qual observamos, claramente, a especificidade do trabalho e do conhecimento profissional do professor. (LOPES, PONTUSCKA, 2011, p. 95).

O conhecimento pedagógico geográfico é a habilitação, e a sistematização do conhecimento geográfico para o ato de ensinar. São as aptidões necessárias para transformar os conteúdos, os estudos científicos geográficos em ensino. Visando uma educação geográfica estruturada em suas bases e paradigmas científicos, levando em consideração as características dos sujeitos da comunidade escolar. O conhecimento pedagógico geográfico pode expressar-se numa simples explicação, nos exemplos, nas histórias e metáforas que o professor utiliza para mediar os conteúdos e torná-los acessíveis aos alunos, expondo o conteúdo por linguagens alternativas, a maneira como da o encaminhamento das atividades, como torna o conhecimento geográfico significativo a realidade do aluno, utilizando exemplos de sua vivência, caracterizando-se numa forma de “pedagogizar” os conteúdos.

A formação do professor de Geografia é uma construção histórico-social através da construção, reconstrução e adaptação de saberes a diferentes realidades e contextos. Em que por vezes é necessário (re) pensar a geografia numa perspectiva didática pedagógica, transformando a matéria ensinada e tornando-a mais acessível, atraente e expressiva aos estudantes. É papel do professor de Geografia a reflexão pedagógica, a avaliação, a revisão de suas concepções e práticas pedagógicas, pois é o principal instrumento estruturador do processo de ensino-aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 O estágio é uma etapa primordial na prática docente, na experimentação de teorias e práticas e no descobrir-se professor. É no estágio que o acadêmico e futuro professor de Geografia coloca em prática o conhecimento pedagógico do conteúdo geográfico, inicia-se assim uma longa e efetiva caminhada na construção como docente de Geografia. Nessa caminhada ele realiza reflexões e questionamentos sobre as estratégias didáticas, a realidade escolar, os pontos positivos e os pontos a serem melhorados pela escola, estudantes e professores.

Apesar da desvalorização da profissão e do desprestígio pela classe ainda é a docência, é a aula, o primeiro caminho para a transformação de realidades. E o professor, o principal agente mediador de conhecimentos, em uma constante construção histórico-social, estabelecida através de uma junção de saberes didáticos, experienciais, científicos e pedagógicos que se mesclam em seu trabalho docente. O conhecimento pedagógico do conteúdo que está sempre sendo aprimorado (re) inventado e (re) significado com o objetivo de tornar os conteúdos geográficos relevantes e estruturadores na visão de mundo dos estudantes.

Portanto, o professor é um profissional com inúmeros conhecimentos: científicos, pedagógicos, experienciais que precisa ter voz mais ativa na elaboração de políticas públicas, nas leis e diretrizes que dizem respeito à educação, pois é o principal agente mediador do processo de ensino-aprendizagem e na construção do conhecimento, e seu papel é essencial na busca pela transformação e na formação de cidadãos críticos, reflexivos e participativos em sociedade.

 

REFERÊNCIAS

CAVALCANTI, Lana de Souza. O ensino de geografia na escola. Campinas, SP: Papirus, 2012. p. 45 – 47.Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2799015/mod_resource/content/2/texto15_libaneo_plano%20de%20aula.pdf. Acesso em 14 jun. 2014.

FERNANDEZ, Carmen. PCK-Conhecimento Pedagógico do Conteúdo: Perspectivas e possibilidades para a formação de professores. Instituto de Química da Universidade de São Paulo. Disponível em: < http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R0370-1.pdf>. Acesso em 08 jun. 2018.

LOPES, C.S; PONTUSCKA,N. N. Mobilização e Construção de saberes na prática pedagógica do professor de geografia. Geosaberes, Fortaleza, v. 2, n. 3, p. 89-104, jan. / jul. 2011.

LOPES, Claudivan Sanches. O professor de geografia e os saberes profissionais: o processo formativo e o desenvolvimento da profissionalidade. Tese apresentada a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

PAIM, Robson; PEREIRA, Ana Maria Oliveira. Tu vai se fazendo professor todos os dias: Diálogos sobre Estagio Supervisionado e Formação para a Docência em Geografia.. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2016.

PASSINI, Elza Yasuco. Prática de ensino de geografia e estágio supervisionado. São Paulo: Contexto, 2013.

SHULMAN, Lee S. Those Who Understand: Knowledge Growth in Teaching. Educational Researcher, Vol. 15, No. 2. (Feb., 1986), pp. 4-14. Disponível em : < http://www.fisica.uniud.it/URDF/masterDidSciUD/materiali/pdf/Shulman_1986.pdf>. Acesso em 31 maio 2018.

 

 

 

 

 

[1] Graduada em Geografia-Licenciatura pela Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus: Erechim. Email: carnielalexandra@gmail.com

Publicado
18-10-2018