AGROTÓXICOS E SEGURANÇA ALIMENTAR: ESTUDO IN VITRO

  • Grazielle Castagna Cezimbra Weis Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
  • Beatriz da Silva Rosa Bonadiman Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
  • Charles Elias Assmann Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
  • Audrei de Oliveira Alves Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
  • Ivana Beatrice Mânica da Cruz Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
  • Ijoni Hilda Costabeber Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Resumo

No Brasil, os agrotóxicos são extensivamente utilizados, fazendo com que o país seja considerado mundialmente o maior consumidor destas substâncias. A adoção do modelo agrícola brasileiro, que utiliza em larga escala e indiscriminadamente os agrotóxicos, vem preocupando as autoridades públicas quanto a seus impactos na saúde humana e na sustentabilidade do meio ambiente. A exposição aos agrotóxicos pelos seres humanos pode ocorrer de forma direta, por meio da atividade ocupacional, ou de forma indireta, pelo ambiente e pela alimentação. Devido à isso, estabeleceu-se os valores de Ingestão Diária Aceitável (IDA) para cada composto, correspondendo a concentração limite que o agrotóxico pode ser ingerido diariamente sem causar riscos à saúde humana. Tendo em vista isso, o objetivo deste trabalho foi determinar in vitro a concentração mínima dos pesticidas mancozebe, clorotalonil e tiofanato metílico, fungicidas amplamente utilizados no mundo, capaz de desencadear um processo inflamatório e comparar com os valores de IDA estabelecidos para cada um desses pesticidas. O experimento foi realizado in vitro com macrófagos RAW 264.7 (ATCC® TIB-71™), os quais foram expostos a diferentes concentrações (0,1 – 100 μg/mL) de cada pesticida por 72 horas, sendo mantidos condições ótimas de cultivo celular. Os pesticidas foram dissolvidos em dimetilsulfóxido, o qual foi utilizado como controle negativo, e como controle positivo para a ativação inflamatória, utilizou-se a fitohemaglutinina. Para avaliar o processo inflamatório realizou-se a quantificação da proliferação celular, dos níveis das citocinas pró-inflamatórias (IL-1β, IL-6, TNF-α e IFN-γ), da citocina anti-inflamatória (IL-10) e das caspases (Casp1, Casp3, Casp8) por testes fluorimétricos e moleculares. Os resultados obtidos demonstraram efeito pró-inflamatório significativo dos pesticidas mancozebe, clorotalonil e tiofanato metílico nas respectivas concentrações de 1, 3 e 100 μg/mL, ocorrendo aumento da proliferação celular e dos níveis de citocinas pró-inflamatórias e caspases. Uma vez que este estudo foi realizado in vitro e que os valores admitidos pela legislação brasileira referem-se a consumo oral, não existindo nenhuma referência sobre valores séricos permitidos, realizou-se uma estimativa do quanto desse valor máximo ingerido estaria presente na célula após sua ingestão. Para tal, considerou-se os valores de IDA para cada um dos pesticidas e o seu percentual de absorção, o peso e volume médio de sangue de um indivíduo adulto. Após realizar esta estimativa e comparar com as concentrações utilizadas neste estudo, pode-se observar que o valor estabelecido pela legislação brasileira como de ingestão aceitável mostra-se abaixo dos valores encontrados neste estudo como capazes de desencadear um processo inflamatório. No entanto, é necessário considerar que a distribuição destes compostos no corpo humano não ocorre de forma uniforme, como calculado nesta estimativa. Dessa forma, pode-se ter valores maiores em alguns tecidos como fígado e rins, onde estas substâncias tendem a se acumular. Além disso, é importante ressaltar que a IDA corresponde ao valor considerado seguro para consumo humano sem gerar malefícios a saúde humana. Entretanto, dependendo da alimentação do indivíduo e da faixa etária, o consumo desses compostos pode ser superior aos valores da IDA.

Biografia do Autor

Grazielle Castagna Cezimbra Weis, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Nutricionista. Mestre em Ciência e Tecnologia em Alimentos. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia dos Alimentos na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Publicado
23-02-2018
Seção
Educação e Formação em Saúde