NOVOS HORIZONTES PARA UMA ASSISTÊNCIA PROFISSIONAL QUALIFICADA A MULHERES QUE VIVENCIARAM A MORTE FETAL
Resumo
Refletir sobre a possibilidade de uma assistência profissional qualificada a mulheres que vivenciaram a morte fetal. Trata-se de um ensaio teórico crítico decorrente de reflexões realizadas em disciplinas cursadas durante o doutoramento em ciências da saúde, no primeiro semestre de 2017, a partir da leitura de artigos científicos e discussões em sala de aula, aliada à experiência prática e profissional na área obstétrica. Fragilidades têm sido apontadas em relação à assistência prestada a mulheres que vivenciaram a morte fetal e estas, geralmente, estão relacionadas ao atendimento dos profissionais de saúde, bem como a deficiências estruturais dos serviços que recebem estas situações. Estudos destacam a necessidade de adequação dos currículos, articulação da academia com a prática profissional, atualização e formação constante e específica sobre o pesar, aprimoramento de técnicas relacionais e de comunicação, cuidado individualizado e que articule aspectos técnicos e emocionais, humanização na assistência ao trabalho de parto e parto, condições de trabalho adequadas, estruturação dos serviços de saúde, favorecimento de redes de apoio e mudança de paradigma. Constata-se que as possíveis soluções para a qualificação da assistência a mulheres que vivenciaram o óbito fetal estão relacionadas a aspectos que perpassam desde a formação acadêmica até a atuação dos profissionais na prática diária. O fato de se tratar de assunto delicado e provocar desacomodação iminente em muitos, pode acabar por fazer que seja pouco valorizado, pouco abordado ou, até mesmo, esquecido no contexto de aprendizado acadêmico e atuação profissional. Por tal motivo, abranger a vida em todas as suas capacidades, considerando as restrições de saberes e práticas de atenção à saúde possibilita que o profissional aprimore suas competências relacionais, sociais, políticas, cognitivas, comportamentais e comunicativas. Ainda, proporciona que este opere de maneira crítica e reflexiva diante das mais diversas e possíveis situações diárias do cotidiano laboral. Por se tratar de assunto que abarca todo o ciclo vital do ser humano, a morte poderia ser trabalhada de forma interdisciplinar nos currículos dos cursos de graduação da área da saúde, não exigindo, para isso, uma mudança curricular. Ainda, ao pensar os saberes para o agir prático, entende-se que o conhecimento deve ser constantemente aprimorado e atualizado de maneira a suprir as lacunas sobre determinados assuntos e áreas, além de favorecer as possibilidades de mudança na atuação profissional. Para além da formação acadêmica, indica-se que o profissional que está à frente do cuidado direcionado a mulheres em situação de morte fetal questione os modelos atualmente impostos de forma a adaptá-los à realidade de cada mulher assistida. Mediante o exposto, a crítica construtiva e reflexiva possibilita novas formas de pensar e agir, abrindo possibilidades para a introdução de estratégias de renovação dos saberes e da prática. Aquele que indaga, que questiona, que testa e que não se conforma em simplesmente reproduzir atos e ações é um ser que está além do seu tempo e pode traçar novos horizontes em prol de um bem comum.
Publicado
03-03-2018
Seção
Saberes e Práticas de Atenção à Saúde