MUDANÇAS NA FORMAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA: PERCEPÇÕES E EXPECTATIVAS DE ESTUDANTES DE UM CURSO INOVADOR

  • Charles Felipe Welter Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • João Vitor Garcia de Souza Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Maria Conceição Oliveira Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Izabella Barison Matos Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Amanda Boff Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó

Resumo

Os modelos de formação nas escolas médicas têm sido alvo de discussões e propostas intensificadas no Brasil há duas décadas. Especialidades médicas, sempre mais presentes em nosso meio, contam com uma retaguarda repleta de equipamentos para confirmação das hipóteses diagnósticas, muito onerosos aos sistemas de saúde. Como consequência deste repertório tecnológico torna-se nítida a fragmentação do conhecimento em saúde, especialmente na Medicina. O processo formativo pautou-se por muito tempo na tecnologia disponível, com vistas ao tratamento das doenças, em detrimento da abordagem integrativa do processo saúde-doença-cuidados. A compreensão deste processo sempre foi fundamental para elaboração de propostas terapêuticas eficientes. Publicadas em 2014, novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para o curso de Medicina implicaram uma reconfiguração dos eixos de competências a serem alcançados na formação: Atenção à Saúde; Educação em Saúde; Gestão em Saúde. Ainda, as novas propostas visam atender prerrogativas do Sistema Único de Saúde (SUS), onde, além da promoção em saúde, prevenção, tratamento e reabilitação da maioria das doenças e agravos poderem ser dados de modo adequado e resolutivo na Atenção Primária em Saúde (APS). Assim, além de buscar uma “clínica ampliada”, haveria a consequente diminuição de demanda pelas demais instâncias de saúde. O trabalho objetiva expor resultados preliminares da pesquisa desenvolvida por acadêmicos da 5ª fase e docentes do curso de Medicina analisando as percepções sobre formação e expectativas profissionais de estudantes de um curso inovador nas suas primeiras fases. Verificando também se a proposta de uma escola médica inovadora, de acordo com a necessidade do sistema de saúde onde esta inserida, vem sendo alcançada. A pesquisa, de caráter qualitativo, coletou dados através de questionário com 35 questões fechadas, abertas e semi-abertas, aplicado a estudantes das 1ª e 7ª fases do curso de Medicina de uma universidade pública do sul brasileiro, entrevistas com seu respectivo coordenador e reitor. Análises preliminares revelam que graduandos recém-ingressos apresentam interesses formativos voltados à APS, perspectivas mais otimistas quanto à carreira, uma visão positiva do campo de trabalho como amplo e potencialmente capaz de absorver profissionais. Outros aspectos apontados: ênfase na promoção e prevenção, saúde coletiva, humanização e assistência integral à saúde de qualidade. No transcorrer da graduação há uma mudança de perspectiva na formação, onde, estudantes da 7ª fase privilegiam a especialização; preferência pela atuação no mix: setor público-privado, enfatizando a qualificação, visando o acesso ao mercado de trabalho competitivo, assim como na equação entre o número de profissionais e a possibilidade de maior salário. O desinteresse e desvalorização pela atuação na APS e no sistema público de saúde, predominante no imaginário social vigente, emerge ao currículo inovador de formação médica à medida que o acadêmico avança em direção à formatura. Evidenciamos que, apesar do Projeto Pedagógico do Curso estar em consonância com as DCNs, o foco do interesse parte do eixo da humanização e da positividade da ampla possibilidade de inserção no mundo de trabalho indo, progressivamente, se direcionando para o eixo do limite da questão mercadológica, formação especializada para alcançar melhor condição salarial pela grande competição profissional.

Publicado
09-04-2018
Seção
Educação e Formação em Saúde