MULHERES IMIGRANTES HAITIANAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Resumo
A Atenção Primária de Saúde (APS) é a forma de organização dos serviços de saúde que responde a um modelo por meio do qual se busca integrar todos os aspectos e necessidades de saúde da população. Em sua forma mais desenvolvida, a APS é o primeiro contato com o sistema de saúde e o local responsável pela organização do cuidado à saúde dos indivíduos, suas famílias e da população e tem como principal estratégia de execução a Estratégia de Saúde da Família (ESF). Neste cenário inclui-se o crescente movimento de imigrantes haitianos no país, devendo ser garantido a atenção à saúde de maneira integral, humanizada e qualificada. Este estudo é caracterizado como sendo um estudo de caso, do tipo relato de experiência, que ocorreu no município de Santa Rosa, localizado na região noroeste do Rio Grande do Sul, no ano de 2016. O estudo baseia-se a partir da construção e execução de um grupo de promoção à saúde, voltado a mulheres imigrantes haitianas residentes na área de abrangência de uma ESF, durante a execução do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família. O maior contratempo encontrado pelos imigrantes em nosso país é o aprendizado da língua portuguesa, e esta vai muito além da comunicação. Isso os isola, principalmente para imigrantes recém-chegados, tendo efeitos no desempenho do trabalho, na busca de serviços básicos como para alimentação, a procura aos serviços de saúde, entre outros, que para nós brasileiros, são muitas vezes rotineiros. O desafio dentro do serviço público, é principalmente a língua. As dificuldades enfrentadas pela equipe são principalmente se fazer entender. Muitas mulheres deixaram no Haiti familiares, que além de manifestarem o sofrimento da ausência desses, possuem o comprometimento de auxiliar financeiramente aqueles que lá permaneceram. Além desses fatores outro ponto a ser abordado nesse cenário ao qual nos deparamos durante os encontros, eram os relatos de que as mesmas faziam, de sofrimento relacionado a cor de suas peles, pois há a estigmatização de “estrangeiras, pobres e negras” em uma terra estranha. Tais relatos fortaleciam nossa atuação enquanto profissionais de saúde, pois sentíamos que esta ação, estava amenizando o pesar deste cenário a qual as participantes vivenciavam. Ora, é impossível enquanto profissional de saúde não ser mobilizado com sentimento de empatia ao ouvir o relato de uma mãe que teve de partir e deixar seus filhos na busca de trabalho para a subsistência deste, ou o relato de uma filha que lamenta a morte do pai sem se quer ter se despedido. O processo reflexivo propiciado por meio deste relato de experiência permite concluir que a questão da imigração haitiana ainda há muito em avançar em nosso país, principalmente na melhoria do acesso a esta população aos serviços públicos e as barreiras da língua. Mesmo assim, a proposta da criação deste grupo trouxe grande oportunidade e conhecimento, pois se constitui de um dispositivo interlocutor capaz de transformar os processos de trabalho e aprendizado no campo da educação permanente em saúde.