ANÁLISE DO USO DE BENZODIAZEPÍNICOS POR USUÁRIOS NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE EM UM MUNICÍPIO DO OESTE CATARINENSE
Resumo
Resumo: A prescrição de hipnóticos e ansiolíticos, sobretudo da classe dos benzodiazepínicos, é uma realidade frequente na Atenção Básica do país. Esses fármacos atuam sobre o sistema nervoso central, atenuando sintomas como ansiedade e tensão, porém o uso crônico pode desencadear tolerância e dependência. Diante disso, é importante avaliar o perfil dos usuários de benzodiazepínicos na Atenção Básica e contemplar, no contexto da saúde pública, a promoção, a proteção e a prevenção dos agravos à saúde, incluindo a problemática do uso dessa classe de medicamentos no território, definindo-se ações mais assertivas no que se refere ao cuidado em sofrimento mental. Deste modo, objetivou-se analisar e caracterizar o perfil epidemiológico de pacientes usuários dos três benzodiazepínicos disponibilizados na Atenção Básica pelo Sistema Único de Saúde no município de Chapecó, SC: clonazepam, diazepam e lorazepam. O estudo faz parte do projeto de pesquisa intitulado Sofrimento mental na Atenção Básica: profissionais, diagnóstico e tratamento em um município da região oeste de Santa Catarina, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFFS (1.667.924/2016). Trata-se de um estudo epidemiológico transversal realizado no município de Chapecó, com dados coletados nos Centros de Saúde da Família (CSF) elegíveis à pesquisa, observando-se prontuários eletrônicos. Foram levantados dados referentes ao período de março a junho de 2016 quanto a idade do paciente, sexo, endereço, raça, escolaridade, ocupação, benzodiazepínico utilizado, duração do tratamento e queixa/diagnóstico registrado. Após análises estatísticas, avaliação de frequências e comparações das variáveis descritivas, observou-se que, dos 131 usuários dos benzodiazepínicos disponibilizados na rede municipal de saúde, 105 eram mulheres, representando um total de 80,15%. Destas, aproximadamente 49% encontravam-se na faixa etária de 40 a 59 anos, e 49,5% eram casadas ou viviam com o companheiro. Já na comparação entre os quatro CSF pesquisados (Goioen/Cachoeira, Colônia Cella, Sul e São Pedro), a unidade Goioen/Cachoeira foi, proporcionalmente à amostra coletada, a que mais prescreveu benzodiazepínicos durante o período analisado, configurando 44,26% do total de prontuários. Além disso, somente 8 pacientes haviam iniciado o uso de benzodiazepínicos de 1 a 6 meses até o momento da pesquisa, ao passo que 34 deles já usavam esses fármacos há pelo menos 5 anos. Transtornos de ansiedade foram o diagnóstico mais frequente registrado nos prontuários, sendo que 35 dos pacientes analisados faziam uso de benzodiazepínicos sem que houvesse um diagnóstico registrado pelo médico. Assim, identifica-se que grande parte dos usuários de benzodiazepínicos são mulheres, entre 40 e 59 anos, casadas e que sofrem de algum tipo de transtorno de ansiedade. Observou-se, por meio da análise dos dados, que o perfil epidemiológico dos usuários de benzodiazepínicos é compatível com o que é relatado na literatura. Conclui-se, com isso, que é necessário planejar e implementar mudanças nos procedimentos de prescrição e dispensação de benzodiazepínicos na Atenção Básica à Saúde. Ademais, nota-se a importância em estabelecer perfis populacionais a fim de promover ações mais condizentes com as reais necessidades em saúde pública, e que possibilitem o cuidado especializado e alternativo à medicação para os pacientes que se encontram em sofrimento mental.