Rede de Atendimento à Infância e Adolescência

  • Morgana Luiza Granella Universidade Comunitária da Região de Chapecó - UNOCHAPECÓ

Resumo

Buscando articular programas, projetos e serviços voltados a crianças e adolescentes em Chapecó-SC, criou-se em 2006 a Rede de Atendimento à Infância e Adolescência – RAIA. A Unochapecó compõe a RAIA através de projeto de extensão dirigido à educação permanente junto aos serviços, equipes, e ao público infantojuvenil e familiares. O trabalho em rede pressupõe mobilização coletiva e atenção ao território. O objetivo do projeto está em caracterizar a experiência da equipe integrante da rede, analisando a configuração atual, seus avanços e desafios na consolidação de práticas intersetoriais. O projeto de extensão é conduzido pela interdisciplinaridade. A proposta é amparada na epistemologia da complexidade, visando constituir um plano comum capaz de criar, entre distintos atores, zonas de pertinência, transversalidades, promovendo olhares e práticas que põem em cheque fundamentos da formação especialista. Investe-se na consolidação de espaços e experiências pautadas pelo diálogo intersetorial, formação continuada, matriciamento, estudos de caso, visitas ao território. Ainda desenvolvem-se articuladamente, três projetos de iniciação científica que objetivam compreender demandas, estratégias dos serviços de saúde, assistência social e educação e correlações entre problemáticas ligadas à infância/adolescência e violência familiar. A experiência cria espaços de auto-observação, auto-avaliação e análise das implicações, potencial para (re)construir fluxos de trabalho a partir de vínculos significativos, da corresponsabilidade tanto entre equipes de cada serviço quanto entre os serviços, e destes, com o território e usuários. A presença de olhares ancorados em diferentes profissões explicita a complexidade dos problemas, a necessidade da complementaridade das ações e incentiva planejamento e atendimento em função das necessidades. Os espaços de discussões inseridos no cotidiano do trabalho fizeram-se eixo central desta experiência, provocando a percepção de concepções reducionistas e a necessidade da compreensão da complexidade dos fenômenos e das intervenções. Destaca-se o movimento híbrido que perpassa o contexto da RAIA. Há avanços na articulação dos serviços e criação de estratégias de intervenção alternativas, inusitadas e criativas, em que os profissionais conseguem realizar movimentos de singularização, aproximação interprofissional, reconhecimento dos trabalhadores e dos papéis na rede. Mas também há pontos de estrangulamentos e ineficiência de protocolos e fluxos.  A perspectiva de trabalho, que problematiza a fragmentação e o reducionismo, demanda a sustentação permanente de dispositivos de diálogo e estudo, exigindo mudanças na rotina dos serviços e compreensão por parte dos gestores. O investimento na avaliação das ações da RAIA e a construção de indicadores que justifiquem a adoção da perspectiva interdisciplinar, também torna-se um imperativo. Pode-se perceber que a organização da rede possibilita diálogo qualificado entre profissionais e tem problematizado a fragmentação, a duplicação de esforços das especialidades, instigando a promoção de novas leituras da realidade e de processos de autogestão nas regionais onde a rede tem se organizado. Portanto, a atenção em rede é uma construção constante, que necessita avançar na efetivação das políticas públicas como espaços de ampliação à cidadania e potências, capazes de criar estratégias de enfrentamento das situações de violação de direitos e sofrimentos de crianças, adolescentes e suas famílias.
Publicado
23-05-2018
Seção
Saberes e Práticas de Atenção à Saúde