TENSÕES E RESISTÊNCIAS DA INSERÇÃO DE REFERENCIAIS ÉTICO-HUMANISTAS NOS CURSOS DA ÁREA DA SAÚDE

  • Cláudia Elisa Grasel Universidade do Oeste de Santa Catarina/ Universidade Comunitária da Região de Chapecó
  • Rogério Augusto Bilibio Universidade do Oeste de Santa Catarina/Universidade de Passo Fundo

Resumo

Resumo: O ensino superior no Brasil, face às complexidades sócio históricas, é permanente espaço de discussões e reelaborações de suas práticas. Recentemente, por meios de disposições legais, os cursos de graduação encontram-se frente a obrigatoriedade de inserir conteúdos inerentes às ações afirmativas (estudos étnico-raciais, educação ambiental e direitos humanos) nas suas matrizes curriculares. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é refletir sobre as tensões e resistências observadas no processo de inserção de referencial ético-humanista nos projetos pedagógicos dos cursos de graduação da área da saúde. Trata-se de um relato de experiência sobre a atuação de um grupo de trabalho vinculado aos setores da Avaliação Institucional (AI) e Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP) para a implementação das ações afirmativas em uma Universidade Comunitária do meio Oeste de Santa Catarina. A atividade constituiu-se em discussão sobre alteração curricular e contou com a participação de coordenadores e docentes dos cursos de graduação da área da saúde. O processo como um todo compreendeu: a) mudanças dos projetos pedagógicos dos cursos; b) a oferta de capacitação continuadas aos docentes, por meio de oficinas, palestras e; c) atividades de docência e de sensibilização pedagógica, num período de aproximadamente seis semestres. A vivência histórica desta experiência é um processo ainda em construção, mas já é possível perceber no cenário determinadas situações que merecem reflexão. De um modo geral, os professores do ensino superior oriundos dos cursos de humanidades – licenciaturas, psicologia, e outros – pela natureza de sua formação, são mais receptivos à inclusão destes conteúdos, ou já o fazem por iniciativa própria. Contudo, nas demais áreas do conhecimento, seja por distanciamento, ou por discordância metodológica, ideológica e/ou intelectual, a recepção a estes conteúdos não ocorre da mesma forma. Especificamente nos cursos voltados à formação inicial dos profissionais da saúde, a experiência de diálogo vivenciada com coordenadores e docentes, quando da implementação da inserção dos conteúdos afetos às ações afirmativas, aponta para os seguintes pontos de reflexão: a) entendimento docente de que o conhecimento técnico é mais estratégico que conteúdos humanistas; b) valorização da prática profissional e da perspectiva de remuneração em oposição com a formação crítica e humanista; c) resistência à ideia da legitimidade da ação do estado na promoção de igualdade e valorização da meritocracia; d) aceitação da inserção destes conteúdos nas estratégias de ensino de forma protocolar, cumprindo tão somente as exigências da legislação. Este quadro, principalmente nos profissionais de Saúde, torna-se mais desafiante, pois é justamente neste cenário que há uma necessidade de conhecimentos e de posturas mais sensíveis ao contato com o ser humano. Além disso, há a imprescindibilidade de promover uma formação generalista, crítica e reflexiva conforme preconizam as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) na busca de educar profissionais para lidar com os dilemas e conflitos inerentes a área da saúde humana.

 

Palavras-chave: Educação Superior; Ensino; Humanismo; Currículo; Profissões em Saúde.
Publicado
20-02-2018
Seção
Educação e Formação em Saúde