Práticas de educação em saúde com indígenas hipertensos da etnia Kaingang do noroeste do RS: Um desafio
Resumo
Este estudo relata o trabalho de educação em saúde sobre hipertensão arterial realizado em três aldeias da etnia Kaingang na região noroeste do Rio Grande do Sul. O objetivo da prática de educação em saúde é possibilitar a construção de conhecimento acerca do assunto, com intuito de atender os anseios e compreender a realidade dessas comunidades. Através das práticas de educação permanente em saúde, busca-se prevenir os agravos, melhorar a adesão ao tratamento e evitar co-morbidades. A educação em saúde é uma estratégia para as Equipes Multidisciplinares de Saúde indígena (EMSI) pois, diante do novo estilo de vida e da interação das comunidades indígenas com as não indígenas busca-se proporcionar aos indígenas conhecimento, espaços de discussão e valorização da saúde, a fim de que sejam corresponsáveis pela qualidade de vida, prevenindo dentre outros agravos também a hipertensão. A hipertensão arterial é um problema de saúde que merece destaque, tendo em vista a crescente incidência, segundo dados do Ministério da Saúde. Aliado à hipertensão, somam-se o sobrepeso e o sedentarismo, como relevantes problemas de saúde pública, representando fatores de risco para as doenças cardiovasculares. O trabalho de educação em saúde faz parte das ações preconizadas pelo Subsistema de Atenção a Saúde Indígena no âmbito do Sistema Único de Saúde (SASISUS) e conta com as EMSI inseridas nas aldeias, sob apoio da equipe complementar. As atividades aqui relatadas foram realizadas nas aldeias Ventarra (Erebango-RS), Carreteiro (Água Santa-RS) e Campo do Meio (Gentil-RS) e envolveu toda a comunidade. Foram realizadas palestras, dinâmicas e atividades com a participação dos indígenas, com o intuito de identificar as causas, as características e os fatores de risco associados à hipertensão arterial. Para viabilizar esse trabalho de educação em saúde, foram consideradas características como a língua, os costumes e hábitos alimentares, bem como a medicina tradicional indígena. Ao avaliar as atividades realizadas, conclui-se que mesmo que o profissional tenha todo o conhecimento mediante a esta problemática de saúde, o fator principal para a participação e o envolvimento da comunidade indígena nestas atividades é a confiança e o vínculo com os profissionais envolvidos. Percebe-se certa resistência por parte da comunidade nestas atividades, no entanto, com a sequencia de atividades educativas nestes locais, isso vem sendo superado, tendo em vista a melhora do vínculo com a comunidade. As atividades concretas são mais participativas, e demonstram maior compreensão. A vivência das atividades relacionadas a educação em saúde são essenciais para a saúde indígena, especialmente na prevenção da hipertensão, e necessitam do profissional muito mais do que conhecimento científico.