MEMÓRIAS E TRAJETÓRIAS

ESCOLAS EM ÁREAS DE ACAMPAMENTOS E ASSENTAMENTO DA REFORMA AGRÁRIA NA REGIÃO DE LARANJEIRAS DO SUL/PR

  • Tayrane Cassana Sebastião UFFS
  • Regis Clemente da Costa Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS

Resumo

Esse trabalho é parte dos resultados do Projeto de Pesquisa Memórias e trajetórias: luta pela terra, educação e projeto societário que tem como objetivo geral pesquisar a trajetória das pessoas que dão nome às instituições escolares nas áreas de reforma agrária (assentamentos e acampamentos) nos municípios sob jurisdição do Núcleo Regional de Educação de Laranjeiras do Sul, PR, e de pessoas que atuaram em espaços de educação não formal junto aos movimentos sociais em torno da questão agrária, bem como a crítica social e a práxis desses sujeitos, buscando identificar o projeto societário a que se vinculam e constroem, com base no conceito gramsciano de intelectual orgânico. 

A pesquisa se insere na área de estudos da História da Educação quando trata das instituições escolares e da História Intelectual quando trata das pessoas que dão nome a essas instituições. A História Intelectual está inserida em um movimento de compreender os sujeitos denominados 'intelectuais’, por sua postura e atuação perante as causas da sociedade, no que diz respeito aos chamados valores universais, às causas da justiça e da verdade, que perpassam as questões políticas. A compreensão sobre o conceito de intelectual está embasada na perspectiva de Antônio Gramsci como mediador, dirigente e organizador da cultura e seu trabalho não se esgota na produção do conhecimento científico, artístico ou filosófico, mas está ligado com a organicidade da sociedade e com a elaboração e efetivação de um projeto de sociedade voltado à classe à qual pertence, como partícipe das ações culturais. 

As atividades da pesquisa tiveram início no dia 1º de setembro de 2023. Importante salientar que a pesquisa conta com financiamento da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná. 

Como forma de obtenção de fontes para a pesquisa foram realizadas buscas junto ao Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (CEAGRO), em Laranjeiras do Sul, PR, ao Colégio Estadual do Campo Iraci Salete Strozak (Escola Base) e ao Centro de Memória Terra e Povo localizados no município de Rio Bonito do Iguaçu, PR.

Foram identificados os assentamentos e acampamentos da reforma agrária nos municípios de abrangência do Núcleo Regional de Educação de Laranjeiras do Sul – PR e as escolas municipais e estaduais existentes nesses espaços. Até o momento foram identificadas 23 áreas de assentamento e 7 áreas de acampamentos da reforma agrária nos municípios que compõe Núcleo Regional de Educação de Laranjeiras do Sul (Cantagalo, Diamante do Sul, Espigão Alto do Iguaçu, Laranjeiras do Sul, Marquinho, Nova Laranjeiras, Porto Barreiro, Quedas do Iguaçu, Rio Bonito do Iguaçu e Virmond) que é a área de abrangência do projeto. Em relação às escolas/colégios existentes nesses assentamentos e acampamentos, até o momento foram identificados: 8 colégios estaduais; 13 escolas municipais e 4 escolas itinerantes, totalizando 25 escolas em funcionamento. 

Nessa etapa da pesquisa estão acontecendo visitas a todas as escolas identificadas a fim de reunir materiais, documentos e depoimentos que contribuam para o registro sobre o contexto da fundação das escolas e a história e a trajetória das pessoas que dão nomes a essas escolas. Nas visitas às escolas também busca-se informações de pessoas da comunidade envolvidas com a luta pela reforma agrária e com a conquista dos assentamentos e acampamentos que possam contribuir com relatos orais, documentos, escritos, reportagens, sobre os sujeitos pesquisados. 

Os resultados parciais apontam para escolas criadas pelos sujeitos envolvidos com a luta pela reforma agrária a fim de atender os filhos das famílias dos acampados, desde o momento da formação do acampamento, como forma de garantir o direito à educação e o acesso ao conhecimento. A criação dessas escolas vem acompanhada da mobilização dos camponeses em torno das políticas públicas da reforma agrária, da saúde, da educação, do transporte, da moradia e da produção. Como resultado parcial, é possível observar que os nomes das escolas identificadas até o momento, em sua maioria, estão ligados a pessoas que tiveram alguma inserção e atuação na defesa dos direitos humanos, no combate às desigualdades sociais, na defesa da transformação social, na defesa da reforma agrária e na defesa da garantia do acesso à educação dos camponeses e dos seus filhos/as. 

Observa-se também que nem todos os assentamentos e acampamentos tem escolas e ainda que algumas escolas foram criadas e com o passar dos anos foram cessadas ou fechadas. Sobre o fechamento das escolas, os relatos apontam como principal motivo a diminuição do número de famílias no campo e consequentemente a diminuição do número de crianças no campo. Esses relatos, no entanto, requerem estudos mais aprofundados a fim de identificar outros fatores que possivelmente possam interferir nesse fechamento. 

Nessa busca por fontes foi mencionada a atuação da Irmã Lia, uma religiosa ligada à Igreja Católica que atuava junto aos acampados e assentados da reforma agrária na região. Os resultados parciais sobre Irmã Lia apontam para um dos objetivos específicos que é a busca por pessoas que atuaram nos espaços de educação não formal no processo de luta pela reforma agrária. 

As próximas etapas da pesquisa envolvem a finalização das visitas às escolas a fim de reunir documentos sobre essas escolas, entrevistas com lideranças das comunidades e análise das fontes a fim de compreender a relação entre o nome das escolas e a criação das escolas, e a trajetória das pessoas que deram nomes a essas instituições escolares nas áreas de acampamentos e assentamentos em questão.  

Palavras-chave: História da Educação, Intelectual Orgânico, História Intelectual

 

Instituição financiadora: Fundação Araucária

Publicado
17-04-2024