A ENFERMAGEM NO ENFRENTAMENTO DA COVID – 19

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Resumo

Introdução: o mundo tem enfrentando mudanças na organização da Atenção Primária à Saúde (APS), após a propagação do novo Coronavírus, causador da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), que surgiu em dezembro de 2019, na cidade chinesa de Wuhan. Com disseminação rápida, levando a morte milhares de pessoas, inclusive no Brasil, desde 30 de janeiro de 2020, o surto da doença é considerado um grave problema de saúde pública e a partir de março passou a ser caracterizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como pandemia¹. A APS é fundamental na organização e coordenação do cuidado no enfrentamento à Covid – 19, atuando ainda mais integrada as ações de vigilância em saúde no seu território. Tem o papel de desenvolver e implementar estratégias de respostas rápidas e resolutivas, já que grande parte da população apresentará sintomas leves da doença². Grande parte dos cuidados imediatos da COVID-19 é de responsabilidade das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), formadas por enfermeiros, médicos, técnicos/auxiliares de enfermagem, cirurgiões dentistas, técnicos de saúde bucal, agentes comunitários de saúde, de endemias e de vigilância em saúde. Através dessas equipes, ações de promoção e prevenção são planejadas e implementadas, buscando evitar encaminhamentos desnecessários aos serviços de média e alta complexidade². É importante destacar a importância dos enfermeiros, considerados a medula espinhal do sistema de saúde. Na APS, esses profissionais são fundamentais, responsáveis pelos cuidados essenciais aos indivíduos e coletividades¹. Além de desempenhar diariamente, ações de proteção à saúde das pessoas, buscam identificar precocemente os pacientes sintomáticos, com resolutividade nos casos leves e manejo adequado dos casos graves. Ainda, coordenam o cuidado e organizam os fluxos de atendimento na APS junto as equipes, garantindo o acesso e promovendo o cuidado dos pacientes, mesmo em tempo de pandemia³. É nesse cenário de mudanças na organização e de crise sanitária da APS, que é importante refletir sobre o papel dos profissionais de Enfermagem, que tem sido fundamental para o enfrentamento da Covid-19. Objetivo: relatar a experiência como enfermeira da APS, na linha de frente no enfrentamento da Covid-19. Metodologia: trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, embasado na experiência como enfermeira de uma ESF com vivência no enfrentamento da Covid -19, na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Sul Brasil – Santa Catarina (SC). O relato descrito é referente os meses de fevereiro a julho de 2020 e foi fundamentado na literatura científica sobre a temática, dos últimos dois anos. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica, sendo que para a busca dos estudos foi utilizada a base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), mediante os descritores: Atenção Primária à Saúde; Prática Avançada de Enfermagem; Infecções por Coronavírus. Resultados e Discussão: no município de Sul Brasil, o planejamento para o enfrentamento da pandemia da COVID-19 teve início em fevereiro de 2020. Com as mudanças no cenário epidemiológico do Estado, avanço do número de casos confirmados e óbitos pela doença, a equipe de saúde passou a organizar os fluxos de atendimento, com aprimoramento nos processos assistências aos pacientes do município. Na APS, desde o início da pandemia, a Enfermagem tem desempenhado papel fundamental no enfrentamento da Covid-19. Além da coordenação do planejamento e implementação das ações de promoção e prevenção dentro do território, dimensionamento da equipe, capacitação dos profissionais de acordo com as normas técnicas do Ministério da Saúde (MS), capacitação para o uso adequado e consciente dos EPIs, gestão e alocação dos insumos de enfermagem,  além de monitorar e prestar os cuidados aos pacientes com a Covid-19, síndrome gripal e ainda, acompanhamento das condições crônicas e agudas nesse período, no município.  Cabe destacar que a coleta dos exames diagnósticos para Covid-19, notificações e alimentações dos sistemas de informação, também são realizadas pela Enfermagem na APS. Nessa pandemia, a consulta de Enfermagem, tem favorecido a identificação precoce de agravos à saúde, garantindo não só o acesso dos pacientes aos serviços, mas também possibilitado a resolutividade dos problemas de saúde, principalmente quando compartilhada com outros profissionais. A consulta de Enfermagem é uma atividade privativa do enfermeiro, legalizada em junho de 1986, através da lei número 7.498, do exercício profissional de Enfermagem e pela Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) 159/93 que dispõe sobre a Consulta de Enfermagem¹. O enfermeiro da APS possui diversas atribuições, entre elas assistência integral às pessoas e famílias. É através da consulta, fundamentada no método científico, que o profissional visa identificar situações de saúde/doença, prescreve e implementa medidas de enfermagem, solicita exames complementares, prescreve medicamentos e realiza atividades educativas voltadas a promoção, prevenção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde¹. Em 2018, a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) sugeriu a ampliação do papel do enfermeiro na APS, apresentando a Enfermagem de Prática Avançada (EPA), que com devida formação, contribui para a gestão dos cuidados de pacientes, se diferenciando pelo grau de autonomia na tomada de decisões e pelo diagnóstico e tratamento dos pacientes. Sem intenção de substituir qualquer outro profissional de saúde, pretende complementá-lo, além de contribuir para o acesso da população a profissionais qualificados na atenção à saúde⁴. EPA já têm sua regulamentação estabelecida em diversos países como Austrália, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, Finlândia, França, Irlanda, Japão, Polônia, Reino Unido e República Tcheca. Na Espanha, Holanda, Reino Unido e Suíça o interesse se deu em função do déficit de médicos de família, criando um novo modelo de atenção à saúde. Chile e México têm demostrado avanços no processo de implantação da EPA. Evidências cientificas demonstram papel resolutivo na APS, com alta taxa de satisfação dos usuários e redução de custos⁴. A Enfermagem tem um histórico de vínculo longitudinal do cuidado aos indivíduos e coletividades e no enfrentamento da Covid-19, tem demostrado através das competências tanto gerenciais como assistenciais um apresto para a prática avançada, atuando com mais autonomia, tendo que ter um julgamento clínico avançado para tomada de decisão, e oferecendo cuidados de alta qualidade, contribuindo para a garantia do acesso e cobertura universal à saúde. Nessa perspectiva, se comparado com outros países da América Latina e do Caribe, o Brasil ocupa posição de destaque com condições para principalmente, valorizar e ampliar o papel dos enfermeiros na APS, por apresentar mais condições para estabelecer programas de pós-graduação voltados para a formação da EPA^4,5. Considerações finais: o enfrentamento à pandemia destacou ainda mais o protagonismo da Enfermagem, fundamental na APS, com potencial para ressignificar a atenção à saúde no país, através da prática avançada. É importante refletir sobre as contribuições que a EPA pode ofertar ao sistema de saúde existente, com ampliação do acesso, principalmente em populações em vulnerabilidade, com limitação do acesso, seja por distâncias geográficas, barreiras socioeconômicas ou outros fatores. No Brasil, apesar das condições serem favoráveis ao incentivo da implementação da EPA, ainda requer um forte trabalho das associações profissionais, fortalecimento da enfermagem como categoria profissional, compromisso político e governamental, fortalecimento e envolvimento das universidades, padronização do futuro papel desses profissionais com regulamentação e remuneração adequada. Por fim, é importante refletir sobre as políticas públicas de qualidade voltadas para o direcionamento de melhorias da prática de atenção à saúde no país e a importância do desenvolvimento da enfermagem no âmbito científico, por favorecer a qualificação do cuidado na APS. Nessa direção, recomenda-se a elaboração de outros estudos e pesquisas acerca dessa temática.

Descritores: Atenção Primária à Saúde; Prática Avançada de Enfermagem; Infecções por Coronavírus.

Eixo temático: EIXO 1: Saberes e práticas no Sistema Único de Saúde (SUS)

 REFERÊNCIAS

1. Cavalcante, C. C. F. S.; Sousa, J. A. S; Dias, A. M. A. Consulta de Enfermagem aos casos suspeitos de COVID -19, na Atenção Primária a Saúde. Revista da FAESF, vol. 4. Número especial COVID 19. Junho (2020) 34-40 ISSN 2594 – 7125, jun. 2020. Disponível em: <http://faesfpi.com.br/revista/index.php/faesf/article/view/112>. Acessado em: 20 jul. 2020.

1. Harzheim, E. et al. Ações federais para apoio e fortalecimento local no combate ao COVID-19: a Atenção Primária à Saúde (APS) no assento do condutor. Ciência & Saúde Coletiva [online]. v. 25, suppl 1, pp. 2493-2497 ISSN 1678-4561, abr. 2020. Disponível em: <https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v25suppl1/2493-2497/#>. Acessado em: 20 jul. 2020.

1. Guimarães, F.; Carvalho, T.; Bernardes, R.; Pinto, J. A organização da atenção Primária à Saúde de Belo Horizonte no enfrentamento da Pandemia Covid 19: relato de experiência. APS EM REVISTA, v. 2, n. 2, p. 74-82, 9 jun. 2020. Disponível em: <https://apsemrevista.org/aps/article/view/128/55>. Acessado em: 20 jul. 2020.

1. Cassiani, S.H.B; Silva, F.A.M. Ampliação do papel do enfermeiro na atenção primária à saúde: o caso do Brasil. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 27, e3245,   Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-11692019000100206&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acessado em: 20 jul. 2020.

1. Bustos Alfaro, E. Enfermería de Práctica Avanzada para el fortalecimiento de la atención primaria de salud en el contexto de Latinoamérica. Enfermería Actual de Costa Rica, San José , 57, p. 234-244,  Dec.  2019. Disponível em: <https://www.scielo.sa.cr/scielo.php?pid=S1409-45682019000200234&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acessado em: 20 jul. 2020.